Líderes religiosos Exploram Crianças Guineenses, diz ONG
Dezenas de crianças da Guiné-Bissau são obrigadas a trabalhar no Senegal para onde são enviadas pelas famílias para fazer os estudos corânicos (estudos do Corão), afirmou neste domingo à Agência Lusa a Associação dos Amigos da Criança (AMIC).
Desde 2005, a AMIC já resgatou de várias cidades senegalesas, principalmente de Dacar, capital do Senegal, 95 crianças, as últimas das quais chegaram a Bissau no final de janeiro."As crianças vão para o Senegal para fazer os estudos corânicos, mas o que constatamos é diferente. É a exploração da mão-de-obra infantil pura e simples", disse Laudolino Carlos Medina, secretário executivo da organização de defesa dos direitos das crianças guineenses.
Segundo contou à Agência Lusa, as crianças passam o dia perambulando pelas ruas das principais senegalesas e à noite têm de entregar ao mestre corânico entre 500 a 1000 francos CFA (entre R$ 2 e R$ 4).
Sobre a actuação das autoridades senegalesas, o secretário-executivo da AMIC disse que "não fazem nada". "Apesar de o Senegal ser um Estado laico, a comunidade muçulmana tem muita força", afirmou."Houve uma criança guineense vítima de maus-tratos físicos e apesar do mestre ter ido a tribunal não lhe aconteceu nada", acrescentou Laudolino Medina.
O responsável da AMIC explicou também que o envio de crianças para o Senegal e outros países africanos tem motivos religiosos relacionados com a necessidade de sofrer para atingir a sabedoria."Os pais e chefes religiosos acreditam que a sabedoria deve ser procurada longe e defendem também que para a alcançarem devem sofrer", disse."Se morrerem (durante este processo) alcançam o paraíso, bem como todo a família", resaltou, acrescentando que além da crença religiosa existe também uma rede muita bem organizada de homens que engana os pais."Oportunistas que estão bem estabelecidos no Senegal e têm um importante leque de intermediários guineenses, que fazem a recolha de crianças em Gabu e Fabatá (cidades da Guiné-Bissau)", denunciou.
Questionado sobre como passam as crianças pela fronteira sem autorização dos pais, Laudolino Medina disse que "existe uma enorme vulnerabilidade" e que embora existam leis, "não são cumpridas".O resgate de crianças do Senegal é feito pela AMIC no âmbito do Programa da África Ocidental de Apoio ao Regresso e Reinserção Social e Profissional das Crianças e Jovens Vítimas de Exploração.
O programa, elaborado pela AMIC e congêneres do Senegal, Burkina-Faso e Mali, é apoiado pela Fundação Suíça do Serviço Social Internacional e pela Organização Internacional da Migração, ambas com sede em Genebra.Contudo, a AMIC precisa de outros tipos de apoio, porque depois de trazer as crianças acompanha-as durante todo o processo de reintegração escolar e social. Uma tarefa excessiva para recursos tão limitados."São mais de 90 crianças espalhadas pela Guiné-Bissau e só temos dois carros com mais de 20 anos", desabafou.
Isabel Marisa Serafim, da Agência LusaBissau, 18 Fev (Lusa) -
18-02-2007 09:40:34
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