quarta-feira, agosto 22, 2007

Testemunho de Uma Assistente Social Revolucionária

Um Livro Recomendado para uma leitura Demorada


(...) III
Tanto quanto percebi, decide então ser assistente social por causa dessa grande paixão pelas pessoas, pelo ser humano...
Pelas pessoas. Porque as pessoas me interessavam muito e porque eu ainda estava naquela fase de ajudar as pessoas que precisavam. Olhe, fui um pouco talvez empurrada. Fui talvez um bocado empurrada pela Maria Leonor Correia Botelho que morreu há pouco tempo e que era assistente social, que era tam-jém noeiista. Entrei assim com uma nota de 19 valores ou coisa parecida...
Tinha que se fazer uma prova de admissão?
Exacto. Eu apanhei uma nota muito boa. Fui sempre muito boa aluna, fui até convidada a ficar no Instituto. Entretanto as minhas crises religiosas continuavam. Elas não sabiam, porque eu também não lhes dizia... Ia às aulas e vinha-me embora. Eu praticamente vivi, durante o curso, num lar feminino na Gomes Freire, n.° 5, onde havia raparigas a estudar para todas as profissões. E eu aí arranjei um grupo. Foi a primeira vez que tive um grupo
Foi então que fez as grandes amizades?
Foi.. Foi aí, no Instituto, que eu encontrei a minha amiga Mane [Maria Ma­nuela Antunes], que foi a minha... grande amiga. Foi uma irmã. Foi mais que uma irmã. Houve coisas em que ela foi quase uma mãe. Quando a minha mãe morreu, pelo apoio que me deu a mim, pelo apoio que deu aos meus filhos, foi mais do que uma irmã porque a minha irmã, sendo uma jóia, havia coisasque ela não fazia... não é porque não fosse capaz, se tomasse consciência, mas ela vivia num mundo à parte... parece que metade do mundo não lhe chegou. Não lhe tocou. Protegeu-a. Até na morte ela parece que foi protegida.
Sim?
Morreu com uma leucemia. Foi assim uma coisa muito rápida. Dois dias... quer dizer, esteve mal, eu tratei dela... voltou para casa a fazer a sua vida e de­pois em 24 horas morreu assim... Foi poupada. Até na morte foi poupada.
E, então, diz-me que entrou no Instituto um pouco por acaso...
Um bocado à toa. Era uma hipótese... tinha outras. Podia ter ido para Letras porque era realmente o que eu mais gostava. Mas, olhe, uma das coisas por que eu não fui para Letras foi porque odiava latim. Tinha uma péssima profes­sora de latim e naquele tempo exigiam latim. Foi uma coisa que me marcou pela negativa. E depois eu tinha sempre a possibilidade de ler... Continuei a ler daquela maneira desenfreada até nascerem os meus filhos. A partir daí é que... Porque eu quando lia podia cair Tróia que eu não estava nem aí... Ora, quem tem filhos...
Não pode, tem que estar com a cabeça no lugar.
Não pode. E era um desespero.
Então e a entrada para o Instituto de Serviço Social foi mais positiva do que a breve experiência no Técnico?
Muito mais. Foi uma fase muito boa da minha vida. Naquela luta, naquela coisa... Mas foi uma fase óptima... Aliás, ainda hoje, todos os anos, há uma reunião, um almoço das raparigas do lar. E eu, que não era do lar, mas pas­sava lá o dia... sou sempre convidada. Nem me deixam pagar o almoço. E eu vou todos os anos a pensar: será este o último ano que vou? É um grupo grande...

E alguma delas teve actividade política ou não?
Não. Há uma delas que depois casou com um tipo que é do Partido Comu­nista, ela suponho que também é comunista. Uma delas. O resto mais nada. Vluita gente até era de direita... Bem... e há a Mane. A Mane também um oocado por minha influência... aderia. Aderia. E teve actividade política no Por­to... ainda esteve presa. Ainda esteve presa por minha culpa. Por minha culpa, não. Por culpa de quem a denunciou porque eu nem que me matassem.
Lá chegaremos. Mas o curso de assistente social não era, na época, muito controlado ideologicamente?
Aquilo era da Igreja, era do Patriarca. Entre as várias cadeiras, algumas completamente ridículas, tínhamos teologia, tínhamos sei lá o quê... estudá­vamos as Encíclicas, por exemplo, com o padre Abel Varzim... Mas também tínhamos Direito, também tínhamos Medicina...
Sim, sim...
Quer dizer, nós estudávamos pelos livros da Faculdade, havia coisas em que se era muito exigente... Era um espanto, porque a gente ia desde Direito Civil, Constitucional... Direito Ultramarino, que naquele tempo ainda havia colónias. E havia o Acto Colonial, ou como é que eles lhe chamavam... que nós tínhamos que estudar... Eu fiquei a manejar os compêndios todos, como qualquer aluno de Direito.
Mas também tínhamos toda a parte médica. Tínhamos anatomia, tínhamos fisiologia, que eu adorava também...
Era uma coisa um bocado ecléctica, não é?
Era muito vasto... Tínhamos ainda costura, culinária... Misturado isto tudo com filosofia. Tínhamos montes de cadeiras...
E entre todos esses professores...

Tínhamos alguns incríveis. Por exemplo, o Castro Fernandes. Nunca ouviu falar no Castro Fernandes?... Era o tipo que presidia ao Instituto Nacional de Trabalho. Era o maioral. Era um tipo nojento, repugnante... Incrível. Nós tínhamos aulas com ele sobre corporativismo. Mas com aquele homem, por muito bonito que ele quisesse fazer o corporativismo... nada entrava, nem a mim nem às minhas colegas. Tínhamos ainda professores como o Paulo Cunha, o Marcelo Caetano. Eu por acaso não o apanhei, porque no meu ano, quem estava era o Paulo Cunha. E o Silva Cunha, que foi depois ministro do Ultramar... também foi meu professor,
Portanto, tinha de facto uma componente ideológica fortíssima.
Fortíssima. Bem, evidentemente, no Direito Civil, quando chegou à altura das mulheres, eu, que já era feminista, fiquei superfeminista porque realmen­te... as barbaridades que eles diziam... E nessa altura não era só eu. Éramos todas. Quer dizer, realmente era uma coisa inacreditável que se passava com as mulheres.
Desse conjunto destoava certamente a figura do Padre Abel Var-zim...
Um professor. Um homem excepcional. Ele tinha tirado o curso de Econó­micas e não sei que mais em Lovaina, na Bélgica.

(...)

Norberto Alayon Serviço Social e Reconceptualização

ESPACIO EDITORIAL de Buenos Aires acaba de publicar la 2da. edición aumentada del libro de NORBERTO ALAYÓN (organizador) “Trabajo Social Latinoamericano – A 40 Años de la Reconceptualización”.

El libro incluye 25 artículos, de 30 autoras y autores, de 20 países (18 de América Latina, más España y Portugal).

ÍNDICE

Nota para la Segunda Edición
Introducción
1. Norberto Alayón (Argentina)
2. Nora Aquín (Argentina)
3. Natalio Kisnerman (Argentina)
4. Norah Castro Ortega (Bolivia)
5. Vicente de Paula Faleiros (Brasil)
6. José Paulo Netto (Brasil) NUEVO TEXTO EN CASTELLANO
7. Jeanette Hernández Briceño – Omar Ruz Aguilera (Chile)
8. Liliana Patricia Torres Victoria (Colombia)
9. Ma. Lorena Molina M. (Costa Rica)
10. Odalys González Jubán (Cuba)
11. Luis D. Araneda Alfero (Ecuador)
12. Zoila Silva (El Salvador)
13. Montserrat Feu (España)
14. Tomasa Leonor de León Cabrera (Guatemala)
15. Elsa Lily Caballero Zeitún (Honduras)
16. Silvia Galeana de la O (México)
17. Domingo Rito Maldonado R. (México) NUEVO ARTÍCULO
18. Iris Prado H. – Martha Cecilia Palacios (Nicaragua)
19. Teresa Gabriela Spalding Brown (Panamá)
20. Stella Mary García (Paraguay) NUEVO ARTÍCULO
21. María Helena Reis – Cezarina S. Mauricio (Portugal)
22. Nilsa M. Burgos Ortiz – Raquel M. Seda Rodríguez (Puerto Rico)
23. Luis Acosta (Uruguay) NUEVO ARTÍCULO
24. Teresa Porzecanski (Uruguay)
25. Egleé Vargas Acosta – Mairely Nuváez de De Armas (Venezuela)

Año 2007 – 351 páginas
ISBN 978-950-802-256-1

Espacio Editorial: espacioedit@ciudad.com.ar
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