KISII, 30 Janeiro 2009 (PlusNews) - Priscilla Bosibori, que agora tem 17 anos, tinha 14 quando sua tia foi buscá-la na escola em Kisii, no oeste do Quénia, com o pretexto de levá-la a uma importante reunião de família. Uma vez fora da escola, sua tinha lhe disse que sua família tinha encontrado uma maneira de protegê-la do HIV. Bosibori foi acolhida em casa pelas mulheres da família que cantavam e dançavam, e depois foi levada para um quarto onde encontravam-se outras raparigas de sua idade. “Eu entendi imediatamente que seria circuncidada e fiquei chocada ao notar que mesmo minha mãe, que até então tinha resistido às tentativas de meu pai de me fazer excisar, estava a tentar me convencer de que esta era a melhor maneira de proteger-me da infecção pelo HIV”, disse. Os defensores da mutilação genital feminina (MGF) em Kisii, onde ela é comumente praticada, argumentam que a remoção de parte do clítoris reduz o desejo sexual da mulher e a probabilidade de que ela tenha vários parceiros, diminuindo assim o risco de infecção pelo HIV. “Quando és circuncidada, não te tornas promíscua, e isto significa que não podes ser infectada pelo HIV; até nossos homens preferem mulheres circuncidadas, que não se tornarão prostitutas”, disse Grace Kemunto, que pratica a circuncisão [feminina] tradicional.
Segundo a população local, a campanha do governo e das ONGs para pôr um fim a esta prática fez com que pessoas como Kemunto se tornassem ainda mais agressivas na defesa da MGF. Esta prática vai de encontro à política do Ministério da Saúde e também infringe a Lei da Criança de 2001, que torna ilegal a MFG de raparigas menores de 18 anos. “Eu não sei de onde vem a ideia de que a mutilação genital feminina pode proteger da infecção pelo HIV, mas a crença nela é muito grande aqui”, disse Jacqueline Mogaka, militante contra a MGF na região. “Jovens raparigas estão a buscar voluntariamente a circuncisão por causa desta crença…os defensores desta prática vão morrer lutando por ela.” Estima-se que 97 por cento das raparigas de Kisii sejam circuncidadas, geralmente na adolescência, mas algumas ainda quando são pré-adolescentes. Uma premissa falsa Militantes anti-MGF na região dizem que os argumentos usados por pessoas como Kemunto são extremamente prejudiciais, principalmente porque subentende-se que as raparigas e as mulheres detém o controle de sua vida sexual, o que é falso para a maioria das mulheres em Kisii. Segundo a Pesquisa sobre Demografia e Saúde realizada no Quénia em 2003, nas zonas rurais da província de Nyanza, onde fica Kisii, estima-se que nove por cento das raparigas casam-se em torno dos 15 anos, enquanto 53 por cento casam-se em torno de 19 anos. Muitas delas casam-se com homens mais velhos e têm pouca voz no casamento. Mulheres em Nyanza também têm mais probabilidade de reportar violência física e sexual do que em outras regiões.
A ideia de que a MGF reduz o desejo sexual é contestada por pesquisadores, cujos estudos mostraram que raparigas circuncidadas não mostram nenhuma diminuição significativa do desejo sexual se comparadas às que não foram circuncidadas.
Dorothy Onyancha está convencida de que sua filha de 12 anos contraiu o HIV quando foi levada em segredo por seu pai à uma cirurgiã tradicional. “O pai mentiu quando lhe disse que a circuncisão a protegeria do HIV”, disse ela.
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