AMOR E LIBERDADE
Palavras a Reconciliar por Abril
Palavras a Reconciliar por Abril
Ernesto Fernandes
Prof. decano do ex-Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa
Moldados por nossos pais, sacerdotes, catequistas, professores e políticos, o modelo ético ganhou campo em nossa consciência e na cidade: ama os outros não te ames a ti próprio. Princípio moral de ilusória generosidade em sua face escancarada de miséria e de oligarquia torpe, na era da globalização.
Aos sete pecados mortais, o Papa, em exercício, prepara-se, em nome de A Velhice do Padre Eterno (Guerra Junqueiro, 1950), para duplicar os sete pecados capitais. O decreto está para breve e pretende poupar-nos ao inferno. Ironia da vida moderna, o novo pecado da desigualdade social. Obviamente, um efeito dos pecados já consagrados, como a avareza, a gula, a luxúria, ou a soberba. Não diria a preguiça, pecado capital dos pobres. A estes pertence a servidão e o céu como promessa. Aos ricos pertence a liberdade da exploração sem fronteiras e a conquista do céu por conversão derradeira.
Para surpresa dos venerandos e filantropos crentes do capitalismo bolsista, passará a ser pecado de morte a poluição. O Vaticano – palácio celestial de irradiação do amor ao próximo – está a converter-se às energias renováveis. A Terra agradece a nova doutrina de Bento XVI, tão divina e em esclerose proclamada. Até parece que Leão XIII, em Rerum Novarum (1891), não denunciou o capitalismo selvagem. Com atraso de quarenta anos, é verdade, sobre o Manifesto de Marx e Engels (1848). Papa vermelho, assim o apelidaram. Como havemos de intitular o reino do actual Papa?
Gautama, o Buda (século V a.C.) disse em seus pensamentos: ama-te a ti mesmo e observa – hoje, amanhã, sempre (Cf. Osho, 2002). Certeiro, questiona em premunição a religião cristã que é a moldura da civilização ocidental. Se não te amares a ti próprio, como é que te é possível amares as rosas e as margaridas, os pinheiros e as acácias, os morangos, as tangerinas e as maçãs, aquele teu igual, homem ou mulher, criança ou velhote, em sua diversa cor de pele e de alma?
Confrontados, pelo menos, com trezentas religiões, a Vida aconselha a mudanças éticas: Ama-te a ti mesmo e observa – hoje, amanhã, sempre. Recusa a condenação de egoísta ou narcisista, vem por ti, animado pela palavra de Eugénio de Andrade:
É urgente o amor.
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros da luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
A liberdade é a irmã do peito do amor, por entre caminhos de reflexão e de solidão. Aceite ser provocado. Aceite provocar-se em reconciliação entre amor e liberdade pelo seu Abril.
Almada, Março de 2008
Prof. decano do ex-Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa
Moldados por nossos pais, sacerdotes, catequistas, professores e políticos, o modelo ético ganhou campo em nossa consciência e na cidade: ama os outros não te ames a ti próprio. Princípio moral de ilusória generosidade em sua face escancarada de miséria e de oligarquia torpe, na era da globalização.
Aos sete pecados mortais, o Papa, em exercício, prepara-se, em nome de A Velhice do Padre Eterno (Guerra Junqueiro, 1950), para duplicar os sete pecados capitais. O decreto está para breve e pretende poupar-nos ao inferno. Ironia da vida moderna, o novo pecado da desigualdade social. Obviamente, um efeito dos pecados já consagrados, como a avareza, a gula, a luxúria, ou a soberba. Não diria a preguiça, pecado capital dos pobres. A estes pertence a servidão e o céu como promessa. Aos ricos pertence a liberdade da exploração sem fronteiras e a conquista do céu por conversão derradeira.
Para surpresa dos venerandos e filantropos crentes do capitalismo bolsista, passará a ser pecado de morte a poluição. O Vaticano – palácio celestial de irradiação do amor ao próximo – está a converter-se às energias renováveis. A Terra agradece a nova doutrina de Bento XVI, tão divina e em esclerose proclamada. Até parece que Leão XIII, em Rerum Novarum (1891), não denunciou o capitalismo selvagem. Com atraso de quarenta anos, é verdade, sobre o Manifesto de Marx e Engels (1848). Papa vermelho, assim o apelidaram. Como havemos de intitular o reino do actual Papa?
Gautama, o Buda (século V a.C.) disse em seus pensamentos: ama-te a ti mesmo e observa – hoje, amanhã, sempre (Cf. Osho, 2002). Certeiro, questiona em premunição a religião cristã que é a moldura da civilização ocidental. Se não te amares a ti próprio, como é que te é possível amares as rosas e as margaridas, os pinheiros e as acácias, os morangos, as tangerinas e as maçãs, aquele teu igual, homem ou mulher, criança ou velhote, em sua diversa cor de pele e de alma?
Confrontados, pelo menos, com trezentas religiões, a Vida aconselha a mudanças éticas: Ama-te a ti mesmo e observa – hoje, amanhã, sempre. Recusa a condenação de egoísta ou narcisista, vem por ti, animado pela palavra de Eugénio de Andrade:
É urgente o amor.
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros da luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
A liberdade é a irmã do peito do amor, por entre caminhos de reflexão e de solidão. Aceite ser provocado. Aceite provocar-se em reconciliação entre amor e liberdade pelo seu Abril.
Almada, Março de 2008