O Gabinete de Apoio à Vítima, de Ponta Delgada, atendeu 304 casos nos primeiros três anos de funcionamento, na sua maioria pessoas alvo de violência doméstica que procuram um apoio efectivo ou, apenas, alguém para desabafar.
Instalado num espaço que pertence à Câmara Municipal de Ponta Delgada, o Gabinete da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) é o décimo quarto de uma rede nacional e o primeiro criado nos Açores em Fevereiro de 2004.
No âmbito do Dia Europeu da Vítima de Crime que se assinala quinta-feira, a gestora do gabinete adiantou à agência Lusa que a estrutura de Ponta Delgada atendeu, em 2004, um total de 65 pessoas, 92 em 2005 e 107 no último ano, registando, assim, um constante crescimento nos três anos de existência.
"Só no primeiro mês deste ano, 40 pessoas recorreram ao gabinete", assinalou, ainda, Helena Costa, ao explicar que alguns destes casos do início de 2007 se referem, porém, a pessoas que já haviam procurado a estrutura, mas que acabaram por não dar seguimento ao seu processo.
Helena Costa constatou que, desde a sua criação, o gabinete de tem registado um incremento no número de atendimentos.
"No início, começamos por ter um utente por semana, mas com a divulgação do gabinete, os números têm vindo a aumentar de ano para ano", assegurou Helena Costa, porque, justificou, existe "uma maior consciencialização" das pessoas para fazerem as denúncias.
As agressões entre cônjuges, por exemplo, sempre existiram, mas actualmente a lei protege a mulher e tem criado mecanismos legais para a sua defesa, frisou a gestora do gabinete.
A maioria dos casos que chegam ao serviço são da ilha de São Miguel, principalmente dos concelhos de Ponta Delgada e Ribeira Grande, a maior parte para relatar situações de violência doméstica.
Segundo Helena Costa, são casos que se referem a mulheres vítimas de injúrias e ameaças (violência psicológica) e de agressões físicas.
De acordo com a técnica de Serviço Social, as vítimas que recorrem ao gabinete são sobretudo mulheres (87 por cento), mas no decorrer dos atendimentos "apercebemo-nos que existem, também, no agregado familiar crianças vítimas de maus-tratos".
A maioria das mulheres atendidas tem entre 30 e 45 anos, revelou ainda Helena Costa, avançando que o autor do crime é maioritariamente do sexo masculino.
Em segundo lugar, surgem os processos referentes a crimes patrimoniais, nomeadamente furtos e danos e, ainda, alguns conflitos devido a partilha de heranças.
Na sua maioria, as denúncias partem das próprias mulheres vítimas de violência, mas também através das autoridades policiais, comissões de protecção, Tribunal de Família e Menores e estabelecimentos de ensino.
Mas, as vítimas começam também a socorrer-se da Internet para fazerem chegar ao gabinete as suas queixas.
"A maioria das denúncias partem das próprias vítimas, porém recebemos também várias queixas por e-mail", contou à Lusa a gestora do gabinete de Ponta Delgada da APAV, que relata ainda outro pormenor.
"As pessoas também vêm cá deixar cartas anónimas debaixo da porta", relatou Helena Costa, frisando que por correio electrónico chegam também "muitos pedidos de informação".
Entre Maio e Outubro é o período do ano em que o gabinete "faz mais atendimentos", talvez por ser a altura em que decorrem muitas festas nas localidades, conforme explicou a responsável.
"São alturas propícias para abusos no consumo de álcool, dando origem a conflitos, alguns dos quais na via pública, mas que acabam por se arrastar até às residências", explicou.
Localizado no centro da cidade de Ponta Delgada, o gabinete presta apoio jurídico, social e psicológico às vítimas, ajudando ainda as suas respectivas famílias.
Helena Costa relata o caso de uma família cuja ajuda chegou "a 22 elementos".
"Temos vários grupos, desde a pessoa que só nos procura porque pretende apenas desabafar sobre a sua história de violência doméstica, até aos que pretendem efectivamente apoio", disse.
Além da prestação de apoio inicial às vítimas, o gabinete, sugere, por exemplo, "acompanhamento e terapia familiar", no caso de a vítima pretender manter a relação.
Helena Costa revelou que, só no ano passado, "entre 20 a 30 casais foram encaminhados para terapia familiar" para um centro especializado nesta área.
Helena Costa assegura que o gabinete já "está consolidado", e, por isso, existe agora a pretensão de alargar mais estruturas do género a outras ilhas açorianas.
"Esta é uma pretensão e estamos muito motivados para que se possa tornar uma realidade"", sustentou Helena Costa, ao assinalar a importância da "proximidade" entre o técnico de apoio à vítima e o utente.
"Existem os telefones e até agora os e-mails, mas é muito mais fácil para quem nos procura dispor de uma estrutura física com alguma proximidade", justificou.
A gestora do gabinete de Ponta Delgada ressalva, porém, que a escolha das ilhas onde se poderão instalar mais estruturas do género vai ser alvo de uma pesquisa
Gabinete de Apoio à Vítima atendeu 304 casos nos primeiros três anos
21-02-2007 15:50:00
por Lusa
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