Morre abade Pierre, fundador dos Emmaüs
O abade Pierre, fundador da Comunidade Emmaüs e defensor dos pobres, que participou da resistência aos nazistas na II Guerra Munduial e foi deputado, faleceu nesta segunda-feira aos 94 anos, no hospital Val-de-Grâce de Paris, anunciou o presidente da Emmaüs França, Martin Hirsch.
"O abade Pierre faleceu às 5h25 (locais) no Val-de-Grâce cercado por alguns amigos", disse Martin Hirsch. "A infecção pulmonar que motivou sua internação, depois de uma melhora ao longo da semana, acabou o levando", acrescentou. O religioso, cujo nome verdadeiro era Henri Groués, estava hospitalizado desde 14 de janeiro.
Fundou a primera Comunidade de Emmaüs em 1949. Em fevereiro de 1954, o abade fez uma convocação célebre, na Rádio Luxemburgo, a favor dos sem-teto. Foi por muito tempo a personalidade mais querida pelos franceses.
O presidente Jacques Chirac lamentou a notícia da morte do abade Pierre. Um comunicado divulgado pela presidência destaca que Chirac sentia "um imenso respeito e um profundo afeto" pelo religioso.
Com saúde frágil aos 94 anos, o abade Pierre vivia em Alfortville, nas proximidades de Paris, e era submetido a exames médicos com crescente freqüência. "Estava prevista uma hospitalização para um check-up, mas sua internação no dia 14 de janeiro em Val-de-Grâce foi antecipada por causa de uma pequena infecção", declarou na ocasião Hirsch.
Estudo com jesuítasHenri Grouès, o abade Pierre, nascido em 5 de agosto de 1912 em Lyon, em uma família numerosa, estudou com os jesuítas antes de entrar, aos 19 anos, para a ordem dos capuchinhos, a mais pobre das ordens mendicantes. Por motivo de doença, teve de abandoná-los pouco depois de sua ordenação, em 24 de agosto de 1938.
Destinado à diocese de Grenoble, foi vigário da Basílica de São José, capelão de um orfanato e mais tarde padre da Catedral da Cidade. Durante a ocupação alemã, passou à clandestinidade, ajudou os judeus, apoiou a resistência da região de Vercors, ao sul de Grenoble, e conseguiu promover a fuga de Jacques de Gaulle, irmão do general Charles de Gaulle. Detido em maio de 1944 pelos alemães em Cambo-les-Bains (Pirineus Atlânticos), conseguiu fugir e chegar a Argel.
Deputado entre 1945 e 1951, o religioso fundou em 1949 a primeira Comunidade dos Companheiros de Emmaüs, antes de lançar, em 1º de fevereiro de 1954, o célebre chamado por rádio em favor da "insurreição da bondade" no decorrer do terrível inverno de 1954. Esta passagem de sua vida motivou um filme de 1989, o Hiver 54 (Inverno 54), de Denis Amar, protagonizado por Lambert Wilson.
Quarenta anos depois, quando denunciava "o câncer da pobreza", lançou um segundo chamado aos franceses, dessa vez em favor dos 400 mil sem-teto e para defender o direito de alojamento para todos. Em 1996, um polêmico apoio do escritor revisionista Roger Garaudy arranhou sua imagem. O religioso retiraria depois suas palavras e se explicaria no livro "Memória de um crente" (1997).
Nomeado Grão-Oficial da Legião de Honra em 1992, se negou a receber a condecoração até 2001, para protestar contra a recusa do governo de atribuir alojamentos vazios aos sem-teto. Em 2002, pediu voto para Jacques Chirac no segundo turno das eleições presidenciais contra o ultradireitista Jean-Marie Le Pen.
Autor de vários livros, incluindo uma trilogia teatral, o abade Pierre publicou vários testemunhos sobre sua vida, como "Testamento" (1994) e "Deus meu... por quê?" (2005).
Segunda, 22 de janeiro de 2007, 05h55
in AFP