No sentimento e no pesar estendem-se a todo o mundo acadêmico e intelectual brasileiro os três dias de luto decretados pela Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ESS-UFRJ) pela morte, na manhã de hoje, do professor Carlos Nelson Coutinho, um dos principais intelectuais marxistas entre nós.
A exemplo da ESS-UFRJ, fechada nos próximos três dias em memória do professor, também os brasileiros de esquerda terão neste período e no futuro um tempo de reflexão sobre os ensinamentos e referências trazidos ao nosso país por este mestre, exemplo de intelectual que conseguiu desenvolver, propagar e conciliar ao mesmo tempo, teoria e prática de seu pensamento.
Ao dedicar-se à crítica cultural nos anos 60 e 70, período em que também já se dedicava à filosofia política, Carlos Nelson Coutinho teve um papel destacado na divulgação no Brasil das obras dos teóricos marxistas, o italiano Antônio Gramsci e o húngaro György Lukács.
Entre seus inúmeros livros destacam-se Marxismo e política, e Contra a corrente, lançados pela Cortez Editora; Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político, pela Civilização Brasileira; e seu clássico ensaio A Democracia como valor universal, uma intervenção marcante sua no debate sobre a teoria política no Brasil.
Minha homenagem ao professor Carlos Nelson Coutinho, a seus familiares e amigos, e a todos que o têm e a sua obra como referência. Transcrevo abaixo, também, a nota oficial com que a ESS-UFRJ comunicou o falecimento do professor:
É com profunda tristeza que comunicamos o falecimento na manhã de hoje do nosso querido professor emérito Carlos Nelson Coutinho, reconhecido dentro e fora do país como um dos mais influentes pensadores brasileiros do final do século XX e princípio do XXI.
Sua atitude de vanguarda, ao introduzir, na cultura brasileira o pensamento de dois clássicos do debate teórico filosófico europeu do século XX, G. Lukács e A. Gramsci, e a elaboração de uma obra que tem o selo claro de uma intervenção política na defesa do socialismo e na renovação do marxismo, o revelam como um dos melhores produtos do que ele mesmo denominou de a “década longa dos anos 60”.
Era o período dos melhores anos de florescimento do marxismo, uma conjuntura aberta em 1956, no XX Congresso do PC da URSS e terminada em meado dos anos 70, desesnvolvida em meio às agitações de estudantes e trabalhadores em 1968, e que favoreceu o terceiro-mundismo, o eurocomunismo, e a Primavera de Praga.
Docentes, técnico-administrativos e alunos da ESS da UFRJ tiveram a honra e a sorte de conviver com o brilhantismo, a generosidade e o bom humor de Carlos Nelson. Em nossa Unidade de Ensino, desde o ano de 1986, nosso querido Carlito se constituiu como uma das principais lideranças teórico-acadêmicas no processo de renovação do nosso Programa de Pós-Graduação em Serviço Social – a refundação do Projeto de Mestrado em fins da década de 1980 e a criação do Curso de Doutorado em 1994 – o que sagrou a ESS da UFRJ, na esteira da renovação da profissão no Brasil, como um dos pilares dos avanços profissionais e acadêmicos da área no país.
Em reconhecimento à contribuição desse grande intelectual e amigo que possibilitou a nossa Escola alçar-se a condição de agência nacional e internacional de formação de docentes e pesquisadores da área, o Conselho Diretor da ESS da UFRJ decreta a partir de hoje três dias de luto. Estarão, portanto, suspensas todas as atividades acadêmicas entre 20 e 23 de setembro do corrente, permanecendo a Unidade fechada neste período.
Conselho Diretor da ESS da UFRJ, em 20/09/12