Editada em Abril de 1999, pela Fundação Calouste Gulbenkiam, com uma tiragem de 2.000 exemplares a Obra de Alcina de Castro Martins, Professora doutora em Serviço Social, actual directora do ISMT; ja há muito tempo merece de ser re-editada por esta instituição, especialmente quando o objecto em questão ( a Escol Normal Social, de Coimbra ) comemora os seus 70 Anos.
Estudantes, profissionais, investigadores e docentes que procuram em vão esta obra, tem vindo manifestar o seu mal-estar por esta situação. Só basta fazer uma abaixo assinado para remediar esta situação.
Outras obras de Serviço Social se encontram na mesma situação e , em breve daremos noticias neste espaço, para divulga.
Para já deixamos o testemunho do Prof.Doutor Fernando Catroga, que no seu prefácio escreve o seguinte :
A partir de um tema de dimensão aparentemente regional, a autora soube contextualizá-lo à luz de três vectores que marcaram a sociedade portuguesa do século xix e boa parte do século xx. Referimo-nos aos debates e movimentações à volta da questão religiosa (antijesuitismo, anticongreganismo, laicização do Estado e da sociedade), da questão política (República versus Monarquia) e da questão social (socialismos, contra--ofensiva da Igreja). E como a emergência do Serviço Social e a institucionalização, já sob o Estado Novo, da Escola Normal Social de Coimbra ficariam ininteligíveis sem esses pressupostos, tal percurso deu à investigação um tratamento histórico pouco comum em não especialistas e em trabalhos deste género.
Com efeito, conscientemente, foi escolhida uma perspectiva histórica-genética e totalizante, pois a explicação do objecto em análise passou pelo prévio levantamento do que foi ocorrendo no campo político e no terreno das ideologias e das movimentações sociais. Com tudo isto, marcou-se o sentido diacrónico e epistemológico das tentativas que foram surgindo para cientificar o estudo dos fenómenos sociais e respectivas relações recíprocas. A partir destas, ganha sentido que a história das várias propostas tendentes a criar-se um serviço de assistência social, levadas a cabo desde a Monarquia, tenha sido escrita em articulação explícita com ilações extraídas de novas ciências, como a Higiene Social, a Medicina Social, a Psiquiatria, a Pedagogia, a Sociologia, etc.
Este pano de fundo não pretendeu anular a especificidade que presidiu à institucionalização do Serviço Social em Portugal, (1935-1937); mas, antes, visou conexioná-la com a estratégia do Estado Novo em relação à conflitualidade social e ao novo papel que a Igreja deveria desempenhar na sua concretização. O que, em termos internos, implicou a sua inserção retrospectiva, remontando, nomeadamente, à sociologia conservadora (Lê Play) e à doutrina social da Igreja, e, no âmbito externo, requereu a sua comparação com o que, neste domínio, já tinha acontecido, ou estava a acontecer, em países como os Estados Unidos, a Inglaterra, a França, a Bélgica.
No essencial, os objectivos da obra foram alcançados. E ela não só constitui a primeira monografia sistematizada sobre a génese do Serviço Social entre nós, como dá um importante contributo para o entendimento de uma das faces do modo como o Estado Novo respondeu à obra laicizadora da República e tentou solucionar a questão social, integrando a Igreja no cumprimento da sua estratégia corporativista. Simultaneamente, a análise sociológica da frequência da Escola Normal Social de Coimbra e da função que lhe foi atribuída fornece um bom exemplo acerca das motivações ideológicas que determinaram a feminização de certas profissões, contribuindo, assim, para o estudo da situação da mulher em Portugal e, particularmente, para a compreensão do papel desempenhado por um certo «feminismo» católico na legitimação e defesa da ordem corporativa, então a viver a sua fase de consolidação.
Fernando Catroga
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