Brasileira acusa PSP de agressão violenta no Porto
08.07.2007 - 11h04Ana Cristina Pereira
Tivera uma zanga amorosa, apetecia-lhe sair. Bebeu umas cervejas na Foz, talvez cinco. Quis tomar um copo na Baixa, mas a "movida" portuense é quase uma inexistência ao domingo à noite.
"Estava tudo fechado." Ana (nome fictício) pôs-se a dar chutos na Rua do Almada. Primeiro num carro, depois num edifício. André agarrou-a, para a controlar. De repente, aproximam-se dois agentes da PSP. "Só me lembro de ser puxada pelos cabelos."
André afiança ter visto um dos agentes atirar a sua colega de trabalho para o chão e lhe pôr um pé em cima do abdómen. Imobilizada, a rapariga insultava a autoridade. "Levou quatro ou cinco vezes com o cassetete", assegura o rapaz, que se pôs à frente e ainda terá levado "duas ou três" pancadas. Três transeuntes apelaram à calma. O carro-patrulha não tardou a aparecer. "Não pediram identificação nem nada. Me algemaram e me meteram no carro", acusa ela.Passaria já da 1h00 quando a viatura arrancou: "Era um carro todo fechado por dentro. Eu xingava eles: "Filhos da puta!". Bateram-me no estômago e eu fiquei sem fôlego porque estava gritando muito. Me amordaçaram. Quando saí do carro, tiraram o pano da minha boca e taparam minha cara com a mão. Ao entrar na esquadra, estava completamente fora de mim".
André afiança ter visto um dos agentes atirar a sua colega de trabalho para o chão e lhe pôr um pé em cima do abdómen. Imobilizada, a rapariga insultava a autoridade. "Levou quatro ou cinco vezes com o cassetete", assegura o rapaz, que se pôs à frente e ainda terá levado "duas ou três" pancadas. Três transeuntes apelaram à calma. O carro-patrulha não tardou a aparecer. "Não pediram identificação nem nada. Me algemaram e me meteram no carro", acusa ela.Passaria já da 1h00 quando a viatura arrancou: "Era um carro todo fechado por dentro. Eu xingava eles: "Filhos da puta!". Bateram-me no estômago e eu fiquei sem fôlego porque estava gritando muito. Me amordaçaram. Quando saí do carro, tiraram o pano da minha boca e taparam minha cara com a mão. Ao entrar na esquadra, estava completamente fora de mim".
Terá estado pelo menos em dois sítios distintos. "Queriam que eu pedisse desculpa:
- "Sua puta! Estás bêbada! Usas drogas?"
- "Não preciso de drogas para ser feliz!"
- "Quantos anos tens?"-
"Vinte e seis"
- "Mentira, tens 28!"
"Há um engano no seu passaporte. O documento dá-lhe mais dois anos do que realmente tem e ela usa uma idade para assuntos oficiais e outra para assuntos pessoais, mas às vezes confunde-se: "Ele me bateu e eu cuspi na cara dele. Ele me pregou uns dez estalos na cara. Roguei praga, vomitei, desmaiei. Quando acordei, eles passavam a mão no meu corpo".
André ficara "em choque" com a detenção. Fora a casa, a Santa Maria da Feira, buscar dinheiro para aguentar a noite no Porto. Dirigira-se à 9ª Esquadra, na Rua de Mouzinho da Silveira, junto ao Mercado de Ferreira Borges, e soubera "que ela estava na Batalha". Naquela zona, há diversos serviços. André entrou "na Brigada de Trânsito", na Rua da Porta do Sol, reencaminharam-no para a 9ª. Na 9ª, novos telefonemas e nova indicação para a zona da Batalha, mas para o edifício do Aljube, que acolhe o Comando da Área Metropolitana. Queimaduras de cigarroNo Aljube, André viu Ana, "de relance, a passar".
Um dos guardas ter-se-á aproximado dele. Seriam umas 3h00: "Queria-me responsabilizar por ela e ele só dizia que ela tinha rebentado aquilo tudo e eu ainda disse: "Como é possível uma miúda algemada que chegou aqui acompanhada por dois guardas ter feito esses distúrbios num sítio onde há tanta gente?". O guarda disse que ela estava irascível, que lhes tinha cuspido, que tinha arrastado uma secretária". Lembra-se de que o agente quis ficar com os seus dados e lhe recomendou que falasse verdade caso viesse a ser chamado para prestar declarações.
Lembra-se de que quis fumar e o agente advertiu-o de que ali era proibido fazê-lo e lembra-se de olhar para o cinzeiro e de ver uns cigarros a que apenas foi dada meia dúzia de passas. Ana afirma que lhe chegaram a pôr um saco de plástico na cabeça, que lhe meteram "qualquer coisa na boca, talvez um cassetete", que ouviu uma voz dizer "não batas mais na rapariga", que lhe puxaram o cabelo, que lhe fizeram duas queimaduras com pontas de cigarro (uma por cima de cada cotovelo), que despertou numa "cela fechada". "Quando me tirou de lá, o polícia me sacudiu: "Vamos embora!". Eu olhei para ele e ele: "Fecha as calças." Ter-lhe-ão feito algo enquanto dormia?, questionava. "Culpados serão castigados"
De manhã, André foi ao Tribunal de Instrução Criminal procurá-la: "Fiquei horrorizado. Não era a pessoa que eu conhecia". Tinha nódoas negras e hematomas no rosto, nos pulsos, nos braços, na região lombar. "Compreendo que estava com os copos, que os ofendi, mas então que me levassem para a esquadra e me deixassem lá", quase murmura a rapariga, num banco de jardim, com uns óculos escuros enormes a esconder a negritude dos olhos. André conduziu-a ao Hospital de Santo António. Ana esperou uma hora e saiu disparada, a chorar, a pedir para ir para casa, tomar banho, descansar.
Estava a "pensar que a vida não tem sentido" quando Pedro, outro amigo, a foi buscar e a levou às Urgências. Ainda na noite de segunda-feira, dirigiram-se ao balcão da PSP do Santo António para apresentar uma queixa. O agente de serviço (destacado da 11ª Esquadra) tratou de dar seguimento ao caso.
Na terça-feira de manhã, Ana estava no Instituto de Medicina Legal a fazer exames. Na quinta-feira, deslocou-se ao consulado do Brasil no Porto e ali requisitou uma advogada para tratar do processo.
O PÚBLICO tentou obter uma reacção do comandante metropolitano. Hipólito Cunha, porta-voz da PSP, declarou apenas que "a queixa seguiu os trâmites legais para apuramento da verdade". Se "houver fundamento, os culpados serão castigados", rematou. O processo corre no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto. Poderá haver uma averiguação interna.
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