terça-feira, fevereiro 13, 2007

Serviço Social Alexandra Kollontai .. a Tirania do Amor



Alexandra Kollontai(1872-1952)

Por Flora Silva

A mais destacada dirigente feminina da Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, responsável pela elaboração da legislação revolucionária do Estado Soviético que, pela primeira vez na história, reconheceu e impôs a igualdade de direitos entre os sexos.


De família abastada, cujo pai, o general ucraniano Michael Domontovich, a menina Chura Domontovich, nasceu em 31 de março de 1872, na Finlândia, na época incorporada ao Império Russo.

Alexandra Kollontai
A família descendia de linhagem nobre tendo entre seus antecedentes um famoso príncipe russo do séc. XVIII, Dovmont de Pskov, saudado em inúmeras canções, lendas e contos criados em honra a suas vitoriosas campanhas e que fora canonizado pela Igreja Ortodoxa como São Timofei de Pskov.


Juventude e casamento
Com larga dedicação aos estudos incentivada pela família em colégios da elite, aos quinze anos preparava-se para prestar exames no Liceu masculino o que lhe permitiria obter o título de professora e lecionar em escolas primárias. A adolescente sonhava então com "a possibilidade de tornar-se professora, e poder, algum dia, mudar-se para uma aldeia perdida, longe de São Petesburgo, longe dos parente e amigos". (in De minha vida e trabalho ).
Concluídos os estudos, porém, passa a estudar francês e dedica-se também, intensamente ao Estudo da literatura russa, sonhando, então em ser escritora.

Em 1893, apesar da oposição dos pais, casa-se com seu primo de terceiro grau Vladimir Kollontai, também oficial do Exército, advindo de família pobre cujos pais foram expulsos de suas propriedade no Cáucaso por autoridade czaristas e que fora educado pela mãe professora.
"Amava a meu belo marido e dizia a todos que era extraordinariamente feliz. Mas essa felicidade parecia que manter-me prisioneira. Eu queria ser livre. O que entendia eu por isso? Eu não queria viver como viviam todas as minhas amigas e conhecidas recém-casadas. O marido ia trabalhar e a mulher ficava em casa, dedicando-se à cozinhar, fazia as compras domésticas.”
Vê-se atraída pelo marxismo que naquele momento penetra com muita intensidade na Rússia, provocando discussões em círculos universitários e entre a juventude de um modo geral.

Dedica-se a escrever sua primeira novela. A mesma trata da igualdade de direitos entre homens e mulheres. Narra a vida de uma mulher solteira, próxima dos 40 anos que trabalhava e vivia sem amor e se paixões. A mesma apaixona-se de um rapaz mais jovem, que lhe propõe partir para o exterior, para onde ele viaja a trabalho. De uma forma que contrariava todos os costumes de então, o personagem propõe à sua amada que os dois estejam juntos enquanto durar a viagem, vivendo como "camaradas e queridos" e que, após regressarem quando continue livre e independente um do outro. O texto foi enviado ao escritor Korolenko, considerado o melhor conhecedor de literatura da época, que o reprovou por preconceitos morais.


Além dos cuidados com o filho Mikail, que chega no segundo ano do casamento e da atividade literária, Alexandra participa de grupo de um círculo literário - que realiza inúmeras discussões políticas - e realiza um trabalho educacional como voluntária entre pobres da periferia da então capital russa. Já em 1898 atua como simpatizante dos socialistas, realizando pequenas missões - como o transporte de documentos secretos - sem no entanto ingressar formalmente no Partido.

Revolucionária profissional
Resolve, então, abandonar o casamento por causa, segundo ela, da "tirania do amor" estabelecida pelo marido. Ingressa no Partido Social Democrata Operário Russo (PSDOR) e, pouco depois, parte para a Suíça, a fim de estudar marxismo.
Na Universidade, conhece a obra de Kautski e de Rosa de Luxemburgo e torna-se, a partir de 1899 propagandista do PSDOR, escrevendo artigos e fazendo palestras que expunham a política do partido.


No ano seguinte, dirige-se para a Inglaterra, interessada em estudar o movimento operário daquele país. Regressando à Rússia, após alguns meses, escreve inúmeros artigos e torna-se uma destacada militante socialista.
Em 1905, participa ativamente da Revolução, atuando no movimento de mulheres. Encontra-se com Lênin, pela primeira vez, em uma reunião clandestina, tornando-se amiga do dirigente bolchevique e de sua esposa.
Neste mesmo ano, encontra-se com a dirigente socialista Vera Zasulich, pedindo-lhe conselhos sobre como organizar o trabalho entre as operárias e por onde começá-lo.
No inverno de 1905-1906, além de realizar um trabalho de agitação entre as massas, trava um combate político com as feministas, "defendendo a idéia de que para a social-democracia não existia o problema feminino separado".

Dá uma série de palestras sobre o papel das mulheres na economia, a história das relações conjugais etc. difundindo as idéias socialistas em relação à questão da libertação da mulher. A partir de então e por cerca de 10 anos, participará da fração menchevique do PSDOR.

Internacionalista

No sétimo Congresso da II Internacional, a Internacional Socialista, é a única delegada mulher da delegação russa. Juntamente com Clara Zetkin, propõe a realização de campanhas em favor dos direitos das mulheres trabalhadoras e o estabelecimento do dia 8 de março como dia internacional de luta das operárias, em homenagem às operárias norte-americanas queimadas durante uma greve.


Dois anos depois, organiza um clube de mulheres, sofre várias perseguições por sua atividade política, despertando particular ódio dos órgãos de repressão por sua origem burguesa e de família de militar. Foge o exterior onde ficará por mais de nove anos, de dezembro de 1908 até março de 1917. Durante este período atuou em defesa do socialismo e, particularmente, na luta das mulheres, na Alemanha, Inglaterra, França, Suécia, Noruega, Dinamarca, Suíça, Bélgica e Estados Unidos.


Neste período publicou Através do proletariado Europeu e aquela que é considerada sua mais importante obra A sociedade e a maternidade.
Primeiramente, ingressou Partido Social Democrata Alemão, trabalhando como agitadora, conferencista e escritora. Apenas em 1915, ingressou no Partido Bolchevique posicionando-se de forma definitiva em relação à divisão entre as duas alas principais do socialismo russo: bolcheviques e mencheviques.


Neste momentos políticos cruciais em que, a II Internacional dividi-se diante da posição majoritária no seu interior de apoio dos partidos operários às burguesias nacionais diante da II Grande Guerra, Alexandra Kollontai organiza, como uma das principais dirigentes socialistas internacionalistas, a delegação norueguesa para a Conferência de Zimmerwald. Escreve, então, a pedido de Lênin, o folheto intitulado " Quem necessita da guerra ".

Comissária do Povo
Regresando à Rússia, em 1917, após a revolução de fevereiro, Alexandra participará ativamente da luta do Partido Bolchevique pela conquista do poder pelo proletariado. Delegada do Soviete de Petrogrado edita o jornal A Operária e organiza o primeiro Congresso das Mulheres Operárias de cidade em que se organiza o combate do partido entre as operárias.

Após a Revolução de Outubro, será a única mulher a ter um cargo no primeiro escalão do governo, tornando-se Comissária do Povo (equivalente a ministro de Estado) do Bem Estar Social e participando ativamente da elaboração da novas leis do Estado soviético sobre os direitos da mulher, o casamento, a família etc., a mais avançada legislação em favor dos direitos da mulher de todos os tempos.


"Nomeada a 3 de novembro para o Comissariado da Assistência Social, foi saudada por uma greve dos funcionários (num ato de sabotagem da burocracia czarista ao novo governo soviético, NR). Só quarenta se conservaram os seus postos. Os pobres nos asilos estavam quase nus. Delegações de inválidos caindo de fome, órfãos com as faces encovadas e lívidas, assaltaram o edifício. Kollontai, com os olhos rasos de água, foi obrigada a mandar deter os grevistas para obrigá-los a entregar as chaves das salas e dos cofres. E, quando as recebeu, verificou que o antigo ministro, a Condessa Página, havia levado todo o dinheiro existente, negando-se a entregá-lo sem uma ordem da Assembléia Constituinte", descreve John Reed em seu famoso livro Dez dias que abalaram o mundo .


Nestes anos revolucionários escreve, Romance e Revolução , enfocando as dificuldades da vida dos revolucionários na após a vitória do proletariado em 17. Também neste período publica, entre outros, A mulher moderna e a classe trabalhadora, Comunismo e família, A nova mulher e a moral sexual . Dentre as novelas destaca-se Amor Vermelho, Irmãs e O amor de três gerações.

Diante do stalinisno
Aos 45 anos, casa-se pela segunda vez, com Pavel Dibenko, marinheiro e revolucionário de grande prestígio, que após a Revolução passou a exercer funções no Comissariado do Povo para a Marinha, 17 anos mais jovem do que ela. Esse segundo casamento irá durar por cinco anos.


Opondo-se aos tratados de paz em separado com a Alemanha, assinado por León Trotski, em nome do governo soviético, Kollontai vai renunciar ainda em 1918, ao cargo no governo.
Naquele ano, escreve O Comunismo e a Família e organiza o I Congresso das mulheres Operárias da Rússia, no qual é criado o Zhenutder, departamento de mulheres do Partido Comunista (novo nome do PSDOR), presidido, primeiramente por Inessa Armand.


Em 1920, depois de um ataque cardíaco sofrido por Inesa, Kollontai assume a direção do Zhenutder, juntamente com o Secretariado Internacional de Mulheres da Internacional Comunista - III Internacional, organizando uma intensa campanha nas fileiras do partido russo em defesa da mulheres.
Em 1922, integra a Oposição Operária e é destituída da direção do Departamento de Mulheres do PC.
Com a ascensão da burocracia comandada por Stalin, após a morte de Lênin, praticamente toda a velha guarda do partido Bolchevique vai ser afastada, primeiro, e eliminada, depois. A adaptação de Kollontai ao stalinismo, regime que reverterá boa parte das conquistas do regime soivético no terreno da família vai marcar a decadência da grande revolucionária e lutadora pelos interesses das mulheres.
Como parte do regime, foi a primeira mulher do mundo a ocupar o cargo de embaixadora: de 1923 a 1925, na Suécia, entre 19126 e 1927, no México, de 1926 e 1930, na Noruega e de 1930 a 1945, na Suécia.

A 9 de março de 1952, em Petrogrado, Alexandra Kollontai morre.

Fonte:http://www.pco.org.br/mulheres/personalidades/kollontai.htm


1 comentário:

S Guadalupe disse...

afinal, estava armada em "carapau de corrida", não sabia! Estas mulheres eram todas muito diferentes e traçaram caminhos distintos e marcantes, mas as fotos da época fazem-nas parecer todas iguais.