EM BUSCA DE UMA ÉTICA PLANETÁRIA
(...) Aprender a viver na era planetária, pressupõe e exige uma ética planetária, cujas notas essenciais podemos resumir no seguinte:
Inclua a dimensão intergeracional e diacrónica da solidariedade: temos que pensar hoje na Terra que deixamos aos nossos filhos e aos filhos dos nossos filhos, tendo em conta que – como nos recorda Cousteau – “somos passageiros sem nacionalidade de uma nave chamada Terra, cujo futuro está em perigo”. Não é impossível que a Terra pereça devido à herança que deixamos, mas também é possível torná-la mais habitável.
Alcance uma dimensão planetária: somos todos companheiros e partilhamos o mesmo recinto cósmico; o destino do planeta e o seu cuidado diz respeito a todos nós. Solidariedade e ligação dos humanos com base na pertença a uma Pátria-Terra que nos é comum, e nos problemas que partilhamos e que nos são comuns.
Substitua a ideia darwiniana da sobrevivência do mais apto, pela sobrevivência do mais cooperativo; trata-se de substituir o dinamismo da competitividade pela força comungante e comunicativa da solidariedade.
Se a tolerância é hoje um valor básico para a convivência, nos anos vindouros não será suficiente para obter a fraternidade entre os humanos. Será necessário passar da tolerância à cooperação. Isto implica assumir a diversidade e a pertença múltipla como uma riqueza: afirmar o direito à diferença e a abertura ao universal, e desenvolver a capacidade de diálogo e de encontros/cruzamentos fertilizantes.
Supere a concepção tecnocrática segundo a qual “tudo o que se pode realizar tecnicamente deve ser feito”.
Ensine as pessoas a viverem com o necessário, desprezando todas as formas de ostentação ou esbanjamento. Tal supõe a busca de uma civilização da austeridade partilhada, caracterizada pela simplicidade do modo de vida, com o propósito de assegurar que os recursos limitados cheguem para todos.
Substitua a concepção actual de riqueza e de pobreza consideradas em termos de ter (mais ou menos), por uma concepção em que a riqueza e a pobreza se definam pelo ser, de modo que o referente à riqueza seja a qualidade de vida, não o dinheiro.
Integre o pensamento racional com a sensibilidade e a emoção; o conhecer com o fazer; a razão com o coração; a inteligência com o pensamento e a consciência; a lógica com o mito; o trabalho com o lúdico e a fantasia.
Ensine a viver em comunhão com a natureza (que inclui todos os seres vivos), para saber viver em comunhão com os seres humanos. A este respeito convém recordar o que sabiamente dizia um chefe índio: “Tudo o que acontece na Terra, acontecerá aos filhos da Terra.”
Posto tudo isto, emerge nitidamente uma exigência: a necessidade de uma ética planetária.
(...)
Ezequiel Ander-Egg
VALORES PARA VIVER NA ERA PLANETÁRIA[1]
[1] Comunicação do autor na Sessão de Abertura do I Congresso Nacional de Serviço Social, Aveiro, 2002, organizado pela APSS e Publicado na Obra Serviço Social Unidade na Diversidade - Encontro Com a Identidade Profissional, B. Alfredo Henríquez e Maria André Farinha ( Org. ), Lisboa , APSS. 2003.
Consulte http://www.correioalentejo.com/index.php?diaria=627
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