CONSCIÊNCIA NEGRA
" Ter consciência negra, significa compreender que somos diferentes, pois temos mais melanina na pele, cabelo pixaim, lábios carnudos e nariz achatado, mas que essas diferenças não significam inferioridade.
Ter consciência negra, significa que ser negro não significa defeito, significa apenas pertencer a uma raça que não é pior e nem melhor que outra, e sim, igual.
Ter consciência negra, significa compreender que somos discriminados duas vezes: uma, porque somos negros, outra, porque somos pobres, e, quando mulheres, ainda mais uma vez, por sermos mulheres negras, sujeitas a todas as humilhações da sociedade.
Ter consciência negra, significa compreender que não se trata de passar da posição de explorados a exploradores e sim lutar, junto com os demais oprimidos, para fundar uma sociedade sem explorados nem exploradores. Uma sociedade onde todos tenhamos, na prática, iguais direitos e iguais deveres.
Ter consciência negra, significa sobretudo, sentir a emoção indescritível, que vem do choque, em nosso peito, da tristeza de tanto sofrer, com o desejo férreo de alcançar a igualdade, para que se faça justiça ao nosso Povo, à nossa Raça.
Ter consciência negra, significa compreender que para ter consciência negra não basta ser negro e até se achar bonito, e sim que, além disso, sinta necessidade de lutar contra as discriminações raciais, sociais e sexuais, onde quer que se manifestem. "
(Raimunda Nilma de Melo Bentes, Cedenpa) http://www.carnaxe.com.br/
Assim nasceu Palmares, Reino de Zumbi
Prof. Vicente Oliveira
O Quilombo dos Palmares teve início no século XVI. Alguns autores dão como origem deste núcleo quarenta negros sublevados de um engenho em Porto Calvo (AL).
No início do século XVII, mais precisamente em 1602, o governador-geral Diogo Botelho, ao desembarcar em Pernambuco, organizou a primeira expedição oficial contra os Palmarinos, chefiada por Bartolomeu Bezerra. Daí em diante, foram sessenta e seis expedições do Governo aos Quilombos, contra trinta e um ataques dos negros aos engenhos e forças representativas da Coroa.
O crescimento populacional do Quilombo deu-se a partir de 1630, durante a ocupação holandesa, quando diversos senhores de engenho tiveram que abandonar as suas propriedades.A agricultura era atividade básica, obedecendo a um sistema coletivo de trabalho. Com o surgimento da metalurgia, a sociedade palmarina ficou dividida em camponeses, artesãos, guerreiros e funcionários. Além da fabricação de utensílios para a agricultura e para a guerra, fabricavam também objetos artísticos e utilitários em cerâmica e madeira.
A principal fonte extrativista vinha da palmeira pindoba para o fabrico de óleo; das suas cascas faziam-se cachimbos e cobertura de casas, tecelagem de cestos e cordas. Além disso, usava-se a polpa do fruto como ração ordinária, juntamente com a mandioca.
O Quilombo dos Palmares
Compunham o Quilombo dos Palmares as seguintes cidadelas: Macaco, centro político-administrativo; Subupira, campo de treinamento; Amaro, Andalaquituche, Aqualtune, Acotirene, Tabocas, Zumbi, Osenga, Dambragança e outros.
Ficavam aproximadamente a cem quilômetros da capital Macaco e do campo de treinamento. A descentralização talvez tenha sido determinada a fim de resguardar a integridade da população da "capital".A hierarquia de poder dos Palmares compreendia a Administração, que se incumbia de coletar, na forma de impostos, os excedentes agrícolas e trocá-los nos vilarejos; a Justiça, que aplicava a punição pelos delitos praticados; a Militar, que se subdividia em comandante-em-chefe, general de armas, oficiais e soldados.
A população era majoritariamente negra, predominando o elemento banto. Compunha-se também de índios, mamelucos, mulatos e brancos que geralmente eram soldados desertores, marginalizados e lavradores expulsos das terras.
Calcula-se que essa população tenha sido de 20 a 30 mil pessoas.No Quilombo do Macaco, o maior por ser a capital, havia aproximadamente 1.500 casas.
Para alguns Quilombos foram enviadas expedições patrocinadas pelo Governo, sem, contudo, atingir o objetivo que era a destruição da organização dos palmarinos. A partir de 1676, com a nomeação de Fernão Carrilho para capitão-mor das Guerras dos Palmares, intensificaram-se os combates. Partindo de Porto Calvo, no dia 21 de setembro de 1677, ele atacou o Quilombo de Aqualtune, onde fez muitas mortes e prendeu várias pessoas. Guiado pelos prisioneiros, Carrilho retomou a marcha até Subupira.
No entanto, avisados pelos que conseguiram escapar, Ganga-Zumba, então líder máximo, Ganga-Zona e outros dirigentes queimaram Subupira. Ao mesmo tempo, uma coluna comandada por Gonçalo Pereira da Costa, Matias Fernandes e Estevão Gonçalves atacou o grande Quilombo Macaco, matando muitas pessoas e prendendo os líderes .
Nesse mesmo ano atacaram o Quilombo Amaro, com o aprisionamento de quarenta e sete pessoas, dentre as quais o dirigente Acaiúba e dois filhos de Ganga-Zumba. Após as incursões pelas tropas governamentais, que provocaram a desorganização das forças Palmarinas, Ganga-Zumba recebeu um ultimato do governador -"os Palmarinos entregavam as armas, ou os ataques seriam retomados". Prometia-lhes, entretanto, a segurança de um bom tratamento, a demarcação das terras e a devolução das suas mulheres e filhos.
Em dezembro de 1678, Ganga-Zumba formalizou o Acordo de Paz. Nomeado oficial do exército português, recebeu uma gleba de terras em Cacaú, onde se estabeleceu com 300 a 400 seguidores. Decorrido algum tempo, as pessoas começaram a perceber as diversas formas de constrangimento por que passavam, como por exemplo a restrição da liberdade e as constantes invasões dos militares, que, alegando a existência de negros fugidos, incendiavam as plantações.
Zumbi e a Comunidade Palmarina
Zumbi nasceu nos Palmares no ano de 1655. Capturado com poucos meses de vida, foi entregue ao padre Antônio de Melo, em Recife, que, ao batizá-lo, deu-lhe o nome de Francisco. Criado pelo religioso, recebeu noções de latim e conhecia bem o português. Em 1670, Zumbi fugiu para Palmares e aos 19 anos tornou-se general. Ele não concordava com a postura assumida por seu tio Ganga-Zumba. Refugia-se, então, em Macaco e passa a liderar os guerreiros dissidentes.
Enquanto isso, no Cacaú, os ex- palmarinos insatisfeitos com a situação começaram a articular uma revolta com o intuito de eliminar Ganga-Zumba. Zumbi e seus partidários passaram a reconstruir a comunidade palmarina. Ciente dessa reorganização dos quilombos e da retomada da guerrilha pelos negros, o governador enviou Ganga-Zona ao Macaco, a fim de convencer Zumbi a dispor das armas. Tudo em vão.
À frente de 200 homens, João Freitas da Cunha partiu em expedição aos quilombos. Utilizando a tática de guerrilha, os palmarinos impõem uma formidável derrota às forças constitucionais.Em 1680, partiu outra expedição comandada por Gonçalo Moreira, mas encontrou somente as ruínas. A situação em Cacaú permanecia tensa.
Os negros se dividiram em pró e contra Zumbi. Ganga-Zumba foi envenenado e morreu. Grande parte de seus principais colaboradores foram assassinados. Os favoráveis a Zumbi fugiram para a floresta e começaram a atacar Cacaú.Após três meses de luta e com o auxilio de Ganga-Zona, que passara para o lado das tropas portuguesas, os líderes da rebelião, João Mulato, Gaspar, Amaro e Canhongo, foram degolados. Zumbi e seus guerreiros continuavam a atacar vários pontos do território. Por isso, o governador mandou André Dias organizar uma expedição, com a finalidade de prender e matar o quilombola que resistisse à prisão.
Um mês depois, a expedição retomou sem obter resultado.Intimado a dispor das armas, Zumbi não respondeu. Imediatamente, um corpo de tropas, que se achava na Vila de Alagoas, marchou contra Palmares.
As lutas recomeçaram e violentos combates deixaram mortos e feridos de ambos os lados. Durante o ano de 1681, os palmarinos invadiram a Vila de Alagoas, onde deram combate às forças de Camarão e libertaram escravos. D. João de Souza, governador de Pernambuco, convocou Fernão Carrilho para o comando das tropas. Liderando trezentos homens, Carrilho partiu para o ataque, mas a resistência dos quilombolas fez com que muitos soldados se retirassem. Os ataques palmarinos continuavam provocando mortes na capitania.Bandeirante Paulista tenta negociaçãoA situação era insustentável.
O novo governador, João da Cunha Souto Maior, desembarcou em Recife com o pedido do Rei de Portugal para que se estabelecessem novas negociações. Mas Zumbi estava resoluto, a guerra ia continuar. O governador Souto Maior mandou fazer sucessivas expedições aos PaImares, sem sucesso. Por todos os lugares da província falava-se de uma rebelião geral dos escravos, pois os homens de Zumbi, infiltrados no meio deles, conclamavam-nos à revolta.
O Governo, temeroso da consumação dos fatos, recorreu ao bandeirante paulista, Domingos Jorge Velho, que se encontrava com as suas tropas no sertão do Piauí. Isto foi feito em 1687. Ao assumir o Governo em 1690, o Marquês de Montebelo escreveu a Jorge Velho convidando-o para comandar a campanha de PaImares. Em 1692, o bandeirante estabeleceu um arraial nos PaImares. Ele e sua tropa eram observados atentamente pelos negros, que um dia, tomando de assalto o arraial, obrigaram os paulistas a se retirarem, deixando Jorge Velho isolado em companhia de apenas cinco homens.
Mas Manuel Navarro, outro paulista, partiu em socorro do Capitão, obrigando os palmarinos a se recolherem.Caetano de Mello e Castro, ao assumir o Governo em 1693, estabeleceu como prioridade acabar com o Reino dos Palmares. Para tanto, reuniu todos os setores da classe dominante. Foi a maior expedição bélica do período colonial, uma vez que implicou a mobilização dos quadros militares de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia e Maranhão, totalizando 8.300 homens. O Comando-Geral ficou a cargo de Domingos Jorge Velho, acantonado, em Porto Calvo, com dois mil homens.
Alguns meses, após violentos combates, sempre levando as forças governamentais a se recuarem, a coluna comandada por Sebastião Dias conseguiu aproximar-se das paliçadas, sem contudo rompê-Ias. Provavelmente no dia 3 de fevereiro de 1692, chegaram as forças esperadas. Os dirigentes palmarinos, prevendo o desastre que viria a acontecer, abandonaram o Quilombo pelos contrafortes da Serra da Barriga, onde existia um abismo. A retirada foi um massacre total. Sob o fogo dos canhões, as muralhas foram rompidas e a maioria dos habitantes de Macaco, mortos.
Fuga e morte de Zumbi
Zumbi, mesmo baleado, conseguiu fugir. O Exército Colonial atacava por todos os flancos. Una, Engana-Culumim, Pedro Capacaça, Quiloange, Catingas e vários outros quilombos caíram gradativamente. Antônio Soares, um tenente de Zumbi, foi aprisionado pelos moradores de Penedo, que o entregaram a André Furtado de Mendonça, auxiliar de Jorge Velho. Após sofrer torturas, acabou por aceitar as normas impostas para delatar Zumbi, como condição para obter a sua própria liberdade.Conduzido até a Serra Dois Irmãos, onde Zumbi havia se acoitado, Furtado de Mendonça estabeleceu o cerco.
Poucas pessoas conheciam Zumbi ou dele se aproximavam. Por isto, era necessário alguém de sua intimidade para poder identificá-lo. De acordo com o combinado, Antônio Soares caminhou em sua direção e, traiçoeiramente, esfaqueou-o, dando o sinal para o ataque. A mando do governador Mello e Castro, Furtado de Mendonça após degolar Zumbi, conduziu a sua cabeça para Recife, onde ficou exposta em praça pública, erguida no alto de uma vara.
Era 20 de novembro de 1695.
Prof. Vicente Oliveira - UEMG
Bibliografia
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Alves, Castro - Os Escravos - LPM Editora - 1997.
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Fernandes, Florestan - A Integração do Negro na Sociedade de classes; Editora Àtica, 1986.
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Silvia, Petrolina Beatriz Gonçalves da - Amulher Negra nos anos oitenta : Proposta para a Elucidação da presença e diagnóstico dos problemas da mulher Negra nos Estados do Sul ; Núcleo de Estudos da Mulher.
Ventura, Adão - A Cor da Pele; Edição do Autor, MG, 1979.
Links Interessantes
http://oindividuo.com/consneg.htm
Fuente: http://www.cultura.mg.gov.br/sec/comemor/comemor_novembro.htm
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