Espanha: Apelos à paz no 70º aniversário de Guernica
O 70º aniversário do bombardeamento da localidade basca de Guernica pela aviação alemã ao serviço do general espanhol Franco tornou-se hoje num símbolo da paz, numa homenagem às vitimas da guerra e numa esperança de pacificação do País Basco.
Representantes de dezenas de organizações públicas e privadas, de cidades bombardeadas em vários conflitos, sobreviventes do ataque a Guernica e líderes políticos, concentraram-se na localidade para a leitura da declaração «Guernica pela Paz».
O texto, lido pelo presidente do governo basco Juan José Ibarretxe, traduz uma «aposta incondicional» no diálogo como único caminho para conseguir a paz, quer no País Basco quer em qualquer ponto do planeta.
Qualquer esforço de paz obriga ainda ao «respeito à diferença e à aceitação mútua» e ao «compromisso de todos» pelos esforços «diplomáticos» de «trazer a paz a Euskadi (País Basco) e a todo o mundo».
Entre os presentes estava Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz de 1980, que aproveitou a ocasião para emitir um apelo ao governo espanhol para que «continue, apesar de tudo, a procurar os caminhos da paz», através do diálogo, para o País Basco.
Esquivel, galardoado com o prémio «Guernica Pela Paz e Reconciliação», apelou ainda à ETA para que abandone a violência, afirmando que o diálogo é a «única forma» de «pôr fim à espiral de violência».
Um dos momentos mais emotivos das celebrações de hoje ficou a cargo de Luis Iriondo, um dos sobreviventes do ataque de há 70 anos, que recordou que Guernica sofreu já duas infâmias e uma injustiça.
Considerando o bombardeamento «um acto de terrorismo» contra a população civil, deixando intactos os objectivos militares, Iriondo lembrou que durante décadas os franquistas negaram que tenham estado por detrás da ordem do ataque.
Os sobreviventes do bombardeamento imortalizado numa das obras mais famosas de Picasso serão igualmente homenageados, recebendo o prémio internacional «Guernica pela Paz e pela Reconciliação».
Na tarde de 26 de Abril de 1937 - uma segunda-feira de mercado -, sem aviso prévio, a Legião Condor da aviação alemã, apoiada por aviões italianos, bombardeou a vila durante três horas, reduzindo a localidade praticamente a escombros.
O primeiro avião foi visto pouco depois das quatro da tarde e cerca de 15 minutos depois ocorreu a primeira onda de bombardeamento, em que foram usados aviões Heinkell 111 e Junker 52, de bombardeamento e Heinkel 51 de caça.
Até agora desconhece-se oficialmente o número de vítimas do ataque - que se estima entre 150 e 250, dependendo das fontes -, que serão recordados com uma oferta floral no cemitério de Guernica.
Centenas de pessoas ficaram feridas e mais de 70% dos edifícios da localidade ficaram destruídos.
Vários dos sobreviventes aceitaram nas últimas semanas conversar com a imprensa, com alguns a regressar pela primeira vez, em dezenas de anos, à localidade onde nasceram e viveram.
Destruída na guerra, a localidade é hoje vista como um símbolo da paz, cuja mensagem é, há duas décadas, transmitida para todo o mundo pela «Gernika Gogoratuz», uma organização que quer consolidar a paz na região, em Espanha e no mundo.
Ainda hoje se especula sobre as motivações do bombardeamento, desde vingança pela morte de um piloto a ensaios para o que seriam depois as acções da Segunda Guerra Mundial.
Diário Digital / Lusa
26-04-2007 18:07:00
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