NO REFERENDO VOTO “SIM”
AFIRMA PAULA NOBRE DE DEUS
ASSISTENTE SOCIAL E DEPUDATA NA AR
As pessoas que não forem votar ou as que se abstiverem também estão a contribuir para que mulheres continuem a ir a julgamento e que sejam presas, se a Lei for de facto respeitada. Desde 2003 houve 30 julgamentos em Portugal pela prática de crime de aborto.
Este Referendo contém outra proposta importante: a sociedade vai ter de decidir se as mulheres portuguesas têm a capacidade de decidir ou não, sobre o direito à interrupção voluntária da sua gravidez a ser feita num estabelecimento de saúde adequado. A pergunta do Referendo questiona os portugueses sobre a despenalização do aborto por vontade da mulher.
Portugal é dos poucos países do mundo onde o aborto não é legal e onde as mulheres continuam a ser condenadas. Os casos que são excepção estão previstos na Lei e dependem sempre da opinião médica.Na Europa apenas a Irlanda e Malta não permitem a interrupção de uma gravidez não desejada. Os outros países respeitam a vontade da mulher. Neste momento Portugal tem oportunidade de decidir se vai continuar a alinhar pelos que pensam que as mulheres não têm capacidade de decidir sobre uma questão tão importante para as suas próprias vidas.
Na sociedade portuguesa ainda há quem pense que a mulher é dada a “estados de alma”, que pratica levianamente um aborto, sem razões muito fortes para o fazer. Mas a realidade é que quem pensa assim, está a ter uma posição de profundo desrespeito pelas mulheres portuguesas, contrariamente à maioria dos países na Europa.
A actual Lei não evita que se façam abortos clandestinos, em condições de saúde precárias, na mais absoluta insegurança e desumanidade, sobretudo para as pessoas de menores recursos económicos. As mulheres continuam a sofrer sozinhas, sem possibilidade de conversar sobre o seu problema. A alteração à Lei permite que elas tenham acesso a cuidados de saúde adequados e a conversar com pessoas da sua confiança e com os próprios profissionais de saúde sobre a sua decisão.
O Aborto é dos poucos problemas de saúde pública que só afecta as mulheres.A alteração à lei não estimula a prática do aborto. Mas votar “Sim” no Referendo, traduz uma posição de respeito da sociedade portuguesa pela Mulher, pela sua capacidade de decidir em consciência se pode ou não ter um filho, reconhecendo que as mulheres portuguesas não são inconscientes. A excepção não faz a regra.
A verdade é que as mulheres que por inevitabilidade das suas circunstâncias de vida têm de interromper a gravidez, ponderam muito bem a sua decisão e sofrem como só elas sabem quando fazem um aborto.
Por todas estas razões voto com firmeza “SIM”.
Terça-feira, 23 de Janeiro de 2007
In “Notícias do Alentejo” Janeiro 2007
In “Notícias do Alentejo” Janeiro 2007
1 comentário:
Para além de ser uma mulher bonita e reconhecidamente muito inteligente e empenhada, aqui não estamos de acordo Paula!
Bom trabalho e votos de sucesso nas suas multiplas actividades.
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