quarta-feira, julho 19, 2006

ISSSL O Último Teste de Direito de Familia


Última História*

Que caloreira está neste Verão de 2024 aqui neste refúgio da Velhice Insensata. Escrevo, ultimo o poema final da vida que vivi sempre com a alegria de me sentir de bem comigo e em solidariedade com os outros.
Interrompe-me a escrita Policarpa, porque está à minha procura, uma aperaltada matrona, que informa ter sido Alma Peregrina, em tempos, no Mitelo. Que entre a alma e diga o que pretende, pois almas, mesmo peregrinas, serão sempre bem vindas. Sou eu, a Virgolina, fui sua aluna, há muito tempo, no ano em que o Professor, disse adeus sem remorsos à casa bafienta onde o medo crescia e a mentira capeava um discurso bonito que era o contrário da prática .

– Virgolina, Virgolina, Virgolina, está cada vez mais jovem, digo eu, a encobrir o que vejo, uma papuda senhora, redondíssima, sem cintura, um metro e meio de altura, pelo mesmo de largura. Sabe Virgolina, que desde esse ano que foi do futebol, nunca mais voltei lá. Que sucedeu a A? E a B? E a C? Então Professor não sabe? A morreu de mediocridade galopante. B teve uma síncope de oportunismo. E quanto a C finou-se com um enfarte de ambição.
Muito me conta oh! Alma! Mas o que pretende agora, deste velho? Nada de especial Professor. É que sou escritora e procuro documentos, papéis, recordações do meu passado. Ora o sismo de 2018, destruiu tudo. Dos escombros do Instituto, apenas se salvou um livro, histórias de um Professor de Direito, mas está incompleto. Falta a história que nos deu no dia 1 de Julho de 2004. Lembra-se Professor? Sei que entrava uma Antígona? O seria Cloé? Havia também um Creonte e um Dafnis.
Lembro-me sim, Virgolina. Uma história de amor e ousadia, que amar é isso mesmo, ousar viver. Era assim: Antígona apaixonou-se por Creonte e com a ingenuidade dos seus catorze anos engravidou. Creonte porém era casado com Cloé, e embora tivesse pendente um processo de anulação do seu casamento, em virtude de ter casado em erro, pois a mulher não lhe dissera ter seios de silicone, não podia casar já com Antígona, apesar desta ter autorização dos pais. Estes, Hércules e Safo, não se conformavam com a situação. O neto teria de nascer de pais casados e pela Igreja. Consultaram vários advogados e obtiveram sempre a mesma resposta – Creonte não podia casar com Antígona, pois ainda era casado com Cloé.
Uma solução surgiu então a Hércules e a Sato – a morte de Cloé. Creonte ficaria viúvo, e casaria numa bonita cerimónia, na capela de Santo Ildefonso. A noiva iria radiante de brancura e pureza, disfarçando a barriga, e tudo se resolveria. Encomendaram a morte de Cloé a Dafnis, o qual, a troco de dez mil euros, se encarregou da tarefa, encenando um fatal acidente. Cloé morreu! Logo dois meses depois celebrou-se o casamento, conforme o planeado. Foi a 13 de Maio deste ano de 2004. Um mês depois ocorreu o parto. Nasceu Sócrates, um belíssimo bebé, com os olhos verdes da mãe e as bochechas do avô. Nasceu Sócrates e faleceu Antígona. Creonte com o desgosto, enlouqueceu, vindo a ser internado. Entretanto Dafnis denunciou Hércules e Safo, os quais foram presos. Tomou conta do pequenino a vizinha Cleo, que gostaria de o adoptar. É viúva e tem sessenta anos.


E pronto Virgolina. Foi esta a história. Tem a certeza Professor? Ou inventou agora, perguntou a anafada Alma. E que nota tive, lembra-se? Chumbou Virgolina! Chumbaram todos! Não se lembra que era uma turma condenada ao fracasso, retorquiu o Professor! Provem que a memória o engana. Comentem, clarifiquem, Descrevam, Desenvolvam e Solucionem. Transformem o fracasso em sucesso!


CALMA BOA SORTE

BOAS FÉRIAS

ADEUS

Jorge Cabral
* Este teste de Direito de Familia foi o último escrito pelo Dr. Jorge Cabral enquanto docente do ISSSL. escrito em 1/07/04 para os estudantes do 1º Ano.

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