Desde o século XVI, e por influência da Igreja Católica, criaram-se em Portugal várias Misericórdias, que, praticando o Bem, antecederam as modernas visões do Estado Social. Acolheram pobres e idosos, cuidaram dos doentes, confortaram os necessitados, trataram das crianças. Os princípios políticos que levaram à criação do Estado Providência identificam-se com aqueles valores, e o post II Guerra Mundial assistiu ao crescimento incomensurável das suas organizações e agências.
Enquanto o desenvolvimento económico se processou, o endividamento dos Estados foi controlado e a demografia não fez disparar a idade média dos cidadãos, o sistema subsistiu.
Os últimos dez anos traduzem realidades inversas.
O Estado foi por isso obrigado a encontrar parcerias para complementar os seus objectivos.
Surgiu assim, e com outro vigor, a designada "Economia Social". O seu objectivo não é o lucro, mas disponibilizar meios para operar prestações sociais.
O princípio tem aplicação universal, mas em Portugal ainda mais; a existência de uma rede de Misericórdias única no Mundo é um trunfo inigualável.
Apenas nos falta a vontade necessária para aplicar o princípio, e reduzir a desconfiança, centrada na crença da superioridade do que é público. O essencial é servir as pessoas, independentemente do agente que o exerça.
O espaço aberto às Misericórdias, e por isso à Economia Social, é relevante. Elas deverão, contudo, estar ainda mais preparadas. Não deverão centrar-se somente na transferência de recursos estatais para o seu seio, porque então as vozes que clamam pelo estatismo terão eco. Deverão, sim, adquirir maior sustentabilidade, para o que será necessário a adopção de duas políticas: maior concertação entre todas as Misericórdias, de modo a funcionar como um bloco social; e aquisição individual de maior sustentabilidade financeira, pelo que a rentabilização do seu património é imperativa. Se Portugal não dispuser de uma rede de Misericórdias mais forte, consolidada e tecnicamente mais preparada, a visão estatizante, que tudo atribui ao Estado, ganhará. Queremos que Portugal ganhe e, nisso, o Estado precisa de aliados e parceiros. Pela sua natureza, as Misericórdias estão no lugar ideal para o serem.
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