quinta-feira, agosto 19, 2010

Serviço Social na Revista SISIFO

A Revista Sísifo, da U&D,de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa
Direcção Educação, Trabalho e Identidades Profissionais
dirigida por Rui Canário e Jorge Ramos do Ó, publica um arrtigo bastante actual sobre a questão da identidade da profissão de serviço social, da autoria da nossa colega Isabel Passarinho.

Deixamos a seguir a apresentação da Revista para incitar a sua leitura


Educação, Trabalho e Identidades Profissionais tem-se constituído, ao longo dos últimos anos, num dos eixos de investigação desenvolvido na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa que mais tem contribuído para a produção de conhecimento no campo da Educação de Adultos.

A Educação, através dos conhecimentos que veicula e das normas, valores e comportamentos que transmite contribui, como defende Dubar (1991), para a construção de uma identidade profissional reivindicada. No entanto, é no confronto com o mercado de trabalho que a dupla transacção entre uma identidade profissional para si e uma identidade profissional para o outro ocorre. A identidade profissional é, então, o resultado de um processo biográfico e de um processo relacional, de uma transacção objectiva entre uma identidade atribuída e uma identidade proposta.

No entanto, as transformações ocorridas no sistema educativo, no mercado de trabalho e nas políticas sociais têm confrontado os indivíduos e os grupos profissionais com processos de negociação e de renegociação identitárias cada vez mais complexos. A diversificação do sistema de ensino superior e a passagem de alguns cursos a licenciatura são responsáveis pela emergência de novos grupos profissionais, envolvidos em processos de profissionalização através da luta pelo reconhecimento da sua “expertise” (Freidson, 1994) num processo de competição inter-profissional (Abbott, 1992). Mas as transformações no campo do ensino superior estão também na origem da emergência de processos de renegociação identitária nos contextos de trabalho. Por sua vez, o aumento da precariedade, a contracção do emprego público, a difusão de novos modelos de organização do trabalho e de novas formas de trabalhar têm também contribuído para a complexidade dos processos de construção das identidades profissionais ou mesmo para a sua crise, como Dubar (2000) sustenta.

O sexto número da Sísifo apresenta um dossier temático onde a maioria dos artigos elege como objecto de estudo a profissionalização e as identidades profissionais de quatro grupos profissionais distintos, mas que apresentam, como denominador comum, o envolvimento em processos de reconfiguração identitária. O primeiro artigo, da autoria de Luísa d’Espiney, apresenta os resultados preliminares de uma investigação sobre o processo de construção identitária dos enfermeiros, em particular daqueles que exercem a profissão em equipas de enfermagem de cuidados continuados e de intervenção comunitária. Defende a autora que as transformações que estão a ocorrer a nível das Políticas de Saúde e da estrutura e dos Serviços da Saúde contribuem para a diversificação desses processos. A identidade profissional construída com base nos significados oferecidos pela medicina e pela instituição hospitalar tende actualmente a dar lugar a uma outra que se desenvolve com base na diversificação da acção de cuidar onde se, por um lado, o trabalho com os utentes começa a surgir como uma referência significativa no perspectivar da enfermagem como profissão de cuidar, por outro, a adesão a uma concepção de enfermagem como auxiliar do médico conduz à aceitação do estatuto de “mini-médicos” o qual, embora não confira mais autonomia, oferece maior reconhecimento social.

O segundo artigo, assinado por Isabel Passarinho, consiste num estudo exploratório sobre os assistentes sociais. Tal como os enfermeiros, trata-se de um grupo profissional com uma história ancorada, até recentemente, na hegemonia dos saberes práticos e que se encontra, também ele, envolvido num processo de reconfiguração profissional. A tentativa de construir um corpo de saberes teóricos próprio e a aproximação às Ciências Sociais como forma de reivindicar o estatuto de profissão, a renegociação de uma nova identidade atribuída que apague o estigma do assistente social como mediador de um pensamento conformista, a especialização crescente das funções dos Assistentes Sociais e a privatização dos serviços sociais constituem um campo propício à emergência de novos processos de construção identitária. O artigo de David Tavares baseia-se nos resultados de um estudo realizado no âmbito do seu doutoramento sobre a influência da instituição escolar e dos contextos de trabalho na produção e transformação da identidade profissional dos técnicos de cardiopneumologia. O autor defende que, no caso destes profissionais de saúde, o processo de construção identitária é fortemente influenciado pela instituição escolar, não tanto pela sua acção enquanto instância de socialização, como acontece com os médicos e os enfermeiros, mas, sobretudo, pela sua acção no processo e nos projectos de profissionalização, em virtude das orientações definidas para o ensino, com efeitos na recomposição dos saberes profissionais e do papel desempenhado na institucionalização e legitimação do grupo sócio-profissional. O último artigo deste grupo é da autoria de António José Almeida e discute o processo de profissionalização do campo da gestão de recursos humanos no quadro da pesada herança histórica que tem sido a sua acção de legitimação dos interesses dominantes ao desempenhar um papel instrumental no controlo e conformação ideológica das pessoas aos objectivos do capital. O autor procede ainda à caracterização sociográfica dos profissionais afectos a este campo, o qual é marcado por um forte crescimento quantitativo e por uma elevada taxa de feminização.

O artigo de Alda Bernardes apresenta os resultados de um estudo exploratório sobre as políticas e práticas de formação em grandes empresas a operar em Portugal. Defende a autora que são várias as lógicas que estão subjacentes à formação promovida pelas grandes empresas e que elas determinam o volume e o investimento em formação, o tipo de formação ministrada e as finalidades e os objectivos visados. Para ajudar a compreender a realidade estudada e caracterizar as políticas e as práticas de formação é apresentada uma tipologia composta por três modelos de formação: formação tradicional utilitarista, formação estratégica orientada para a resolução de problemas e formação orientada para o desenvolvimento pessoal e social.

O dossier temático conta também com a contribuição de colegas brasileiras. Maria Cristina Martins dá-nos conta dos resultados de um estudo realizado junto de mulheres que procedem à extracção artesanal de carne de siri e do confronto entre saberes legítimos e ilegítimos aquando de um acidente ambiental. A autora mostra como as relações de poder contribuem para o silenciamento e desqualificação dos saberes práticos tradicionais das descarnadeiras de siri sobre temas ecológicos, em particular sobre a preservação do ecossistema local. O artigo de Veleida Anahí da Silva e Ana M. F. Teixeira apresenta os resultados de uma investigação sobre os estudantes universitários oriundos das classes populares, matriculados na Universidade Federal de Sergipe e que participam num programa destinado a identificar os seus saberes e as suas dificuldades na perspectiva de superação da dicotomia entre saber científico e saber profissional. As autoras apresentam três tipos distintos de processos que estruturam as trajectórias de vida destes estudantes. O dossier temático encerra com a publicação de uma recensão crítica, realizada por Wilson Correia de Abreu, do livro de David Tavares – Escola e identidade profissional: o caso dos técnicos de cardiopneumologia.

O presente número integra ainda o texto inédito da conferência de Albano Estrela, proferida em 2007, na Academia das Ciências de Lisboa, na sessão de homenagem ao pedagogo Delfim Santos, aquando da comemoração do centenário do seu nascimento e encerra com o artigo de dois colegas espanhóis. Joan Josep Solaz-Portolés e Vicente Sanjosé Lopéz procedem a uma revisão da investigação sobre os tipos de conhecimento envolvidos na resolução de problemas e o modo como esses conhecimentos afectam o desempenho, apresentando orientações destinadas a melhorar o ensino da resolução de problemas.


http://www.oei.es/noticias/spip.php?article3440
http://sisifo.fpce.ul.pt/?r=17&p=35
Boa leitura

Alfredo Henríquez

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