sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Marat


Marat-Sade
3/ 4/ 1982 - Porto Alegre/RS
Teatro Renascença


Histórico
Espetáculo dirigido por Nestor Monasterio e Juan Carlos Sosa, é a primeira encenação gaúcha do texto de Peter Weiss. A montagem, um musical - gênero incomum ao público gaúcho -, reúne um elenco numeroso para os padrões do teatro feito em Porto Alegre no período.

O texto de Weiss, A Perseguição e o Assassinato de Jean-Paul Marat Conforme Foi Encenado pelos Enfermos do Hospício de Charenton sob a Direção do Marquês de Sade, filia-se à tradição da dramaturgia épica de Bertolt Brecht. A peça trabalha com o recurso do teatro dentro do teatro e tem como referência uma situação histórica. A ação ocorre no dia 13 de julho de 1808, data do 15º aniversário do assassinato de Jean-Paul Marat por Charlotte Corday. Na obra de Weiss, o Marquês de Sade, que efetivamente realizou encenações em Charenton, é o autor da peça representada dentro do hospício. O crítico Yan Michalski salienta que o texto traz "o violento choque de duas reações diametralmente opostas: um profundo envolvimento emocional (horror, piedade, etc.) que a visão da demência desperta em todos nós, e o distanciamento crítico que caracteriza a nossa atitude diante daquilo que os loucos dizem e fazem. Em outras palavras: o teatro de crueldade de Artaud e o teatro épico de Brecht, de mãos dadas - um namoro aparentemente implausível, mas tornado possível através do engenhoso truque de Weiss".¹

O elenco une o grupo Teatro Cidade de Porto Alegre, de Nestor Monasterio, com alunos de Juan Carlos Sosa, dos Cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos. Juan Carlos Sosa havia já realizado uma montagem de Marat-Sade em seu país de origem, o Uruguai, onde enfrentou problemas com a censura governamental. Radicado no Brasil, Sosa decide encenar Marat-Sade em colaboração com o argentino Nestor Monasterio, também exilado em Porto Alegre após o golpe militar em seu país. O aspecto político é o principal motivo para a montagem do texto de Weiss, visto que em 1982 o Brasil, como outros países da América Latina, ainda vive sob o regime militar.

Num período de escassez de público para os espetáculos em cartaz, o processo de ensaios passa a ser um foco de atenção e atrai, a cada reunião, de trinta a quarenta pessoas interessadas em assisti-los. Mesmo a definição do elenco é resultado do entusiasmo dos atores em participar da montagem. Nestor relembra que era comum chegar ao Círculo Social Israelita, onde ensaiavam, e se surpreender com um novo integrante no início do aquecimento: "E era tanta gente que aconteceu comigo, como éramos dois diretores, de repente chegar ao palco, estar aquecendo para começar e ver uma pessoa que eu não conhecia. ´O que é que o senhor está fazendo?' - ' É que o fulano não vai mais fazer e eu entrei e falei com o...' As pessoas entrando e saindo do espetáculo e eu nem conhecia. [...] Foi uma experiência única. Tinha aquela cena muito forte do final, a pantomima da copulação. Tinha vinte e cinco pessoas nuas e rolava uma coisa assim: se tu chegasses às onze horas da noite no Renascença, podias roubar o que quisesses dentro do Centro de Cultura, porque estava todo mundo lá dentro vendo aquela cena. Lotado de gente, todos os guardas, todo mundo assistindo! Era uma maravilha aquilo".²

A montagem de Marat-Sade provoca uma divisão na crítica teatral gaúcha. Cláudio Heemann considera o grupo imaturo para a empreitada de encenar o texto de Weiss. Já Antônio Hohfeldt escreve: "A respeito do espetáculo Marat-Sade que o Teatro Cidade de Porto Alegre vem apresentando no Teatro Renascença, com mais do que merecido sucesso, deve-se dizer, antes de tudo, que alcançou plenamente o que se propôs, ou seja, simultaneamente ser um espetáculo, no sentido de encher os olhos do espectador, e, ao mesmo tempo, manter a fidelidade ao texto. [...] E este foi o grande acerto de Marat-Sade: impressiona, desde o primeiro momento, a extrema competência com que a dupla de diretores foi capaz de movimentar o grupo, por sua vez símbolo da massa em cena".³

Com mudanças no elenco, a encenação cumpre diversas temporadas em Porto Alegre em 1982 e 1983. No último ano, o espetáculo apresenta-se no Uruguai, onde recebe o Prêmio Florencio de Melhor Espetáculo Estrangeiro dado pela Sección Uruguaya de la Asociación Internacional de Críticos Teatrales. Sosa remonta Marat-Sade em 1992, desta vez sem a parceria de Nestor.

Notas
1 MICHALSKI, Yan. Reflexões sobre o teatro brasileiro no século XX. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2004, pp. 92-93.
2 ALABARSE, Luciano. Alguns diretores & muita conversa. Porto Alegre: SMC, 2000, p. 343.
3 HOHLFELDT, Antônio. Marat-Sade: trabalho de um grupo teatral que atinge o seu objetivo. Correio do Povo, Porto Alegre, p. 15, 15 abr. 1982.




Atualizado em 02/02/2009

2 comentários:

Duarte disse...

A foto está errada porque é do jogador do Sporting, Marat Izmailov...

O GERAL DO SERVIÇO SOCIAL disse...

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