sábado, dezembro 29, 2007

Serviço Social Direito da Família e dos Menores Exame de Segunda Época










UNIVERSIDADE LUSÓFONA
LICENCIATURA EM SERVIÇO SOCIAL

DIREITO DA FAMÍLIA E DOS MENORES

Exame – 2ª Época

2º Ano

19/07/2005



Dos Caracóis se denomina o Bairro, bem próximo da Vila de Amarela. Dos Caracóis, porquê, ninguém sabe. Só se for da lentidão da fome sem vergonha que amolece a ira dos miúdos. Não sei se brincam, se ainda brincam, aqueles miúdos tristes, encardidos rebentos dos restos do Império, Homens que amanhã, se houver um amanhã, serão pastores do tédio e da revolta, nos tugúrios-prisões onde escondemos as chagas da nossa frustração. Ali trafica-se pó, alguns corpos, que as almas são um luxo inacessível, para quem se sustenta só de raiva e se entretém à espera, sabe-se lá de quê?
Na barraca letra N, habitava uma Mãe, Glória, que agora em Tires cumpre o destino, uma pena de prisão quase ansiada. Dessa Mãe, três filhos se quedaram entregues a si próprios e a um vizinho, ancião, meio cego e falho da razão. Três crianças nascidas daquele ventre, apenas filhos dela, pois dos pais perdeu-se o nome, olvidou-se o rasto e da memória nada restou. Homens de passagem breve, talvez cansados bebedores ou caminhantes apressados perdidos na nocturna rotina do sexo barato e distraído.
O mais velho João tem treze anos, cara de trinta, num corpo de oito, cheirador de cola, palmante de carteiras, biscateiro da malandragem, burlador e burlado no comércio das carícias daqueles senhores bem vestidos que às vezes o procuram. Maria, a única menina, ainda não fez seis, é a mulher da casa a quem cabe cuidar do bebé Jorge, criatura chorona e ramelosa por ali a gatinhar no meio da porcaria.
Quem traz algum pão é o rapaz, uma sopa fornece o ancião, do resto diz-se que cuida Deus, pois ainda estão vivos. Uma noite porém, não foi lesto João, quando aliviava o relógio suíço da excelência Pulquéria, dama redonda e rubicunda que apanhava o fresco em alegre passeata. Deixou-se agarrar João!
Esperou Maria o irmão, esperou, esperou ...
No dia seguinte surgiu no Bairro um Homem. Salomão disse chamar-se e ser o esquecido marido de Glória. Casou há quinze anos. Casou e partiu. Com Glória na alma correu o Mundo. Nunca lhe foi infiel. Porque Glória foi a Chinesa de Cantão, a Esquimó da Lapónia e a Índia da Bolívia. Sempre Glória!
Os filhos de Glória são meus filhos, clama agora em pranto. Talvez tenha razão. Quem sabe?

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CALMA E BOA SORTE!
BOAS FÉRIAS!



JORGE CABRAL

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