domingo, novembro 20, 2016

Faleceu HEROINA PORTUGUES, Assistente Social MARIA VARELA GOMES

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Diario de Noticias

Morreu Maria Eugénia Varela Gomes

Aos 90 anos, faleceu hoje Maria Eugénia Varela Gomes - figura marcante da resistência antifascista e da solidariedade com os presos políticos no tempo da ditadura.

Maria Eugénia de Bilnstein Sequeira nasceu em Évora, em 1925, de família conservadora, filha de um militar. Teve educação católica, no Colégio do Sagrado Coração de Jesus. Veio a entrar depois para o Instituto de Serviço Social.

Os seus primeiros contactos com um ambiente operário foram, assim, na qualidade de assistente social. As suas primeiras experiências com a luta política estiveram relacionadas com o processo de ostracização do padre Abel Varzim, que começara por ser um partidário da ditadura, eleito para a Assembleia Nacional, e que depois se tornara cada vez mais incómodo, devido ao seu empenhamento no combate à pobreza.

Numa extensa entrevista autobiográfica recolhida pela investigadora da Universidade de Coimbra Maria Manuela Cruzeiro, Maria Eugênia Varela 
Gomes recorda como tomou o partido do padre, ao saber que Salazar queria afastá-lo do Instituto de Serviço Social e como encabeçou uma delegação que foi pedir ao cardeal Cerejeira que interviesse contra esse saneamento.
Maria Eugénia Varela Gomes - Contra ventos e marés
de Maria Manuela Cruzeiro
Ed. Campo das Letras, 2004

Mas a experiência feita com a intolerância da ditadura rapidamente se estendeu a uma outra experiência, essa com a hipocrisia do cardeal, que recebeu cordialmente a delegação e depois deixou cair o padre sem nada fazer.

Nos anos seguintes, Maria Eugénia prosseguiu o seu processo de radizalização política, envolveu-se em 1958 na campanha eleitoral de Humberto Delgado e, depois, muito directamente nos preparativos da Revolta da Sé, pelo qual foi investigada mas sem chegar a ser detida. Tinha entretanto casado com João Varela Gomes, que viria a ser o pai dos seus dois filhos e duas filhas.

Em 1961, voltou a participar intensamente na campanha eleitoral para a Assembleia Nacional, em que João Varela Gomes foi o único militar no activo candidato pela oposição, e também o mais popular tribuno da resistência.

Nos últimos dias do ano, o capitão Varela Gomes assumiu o compromisso de comandar o assalto ao quartel de Beja, deixando Maria Eugénia em Lisboa, pendente de contactos telefónicos sobre o desenvolvimento do processo. Varela Gomes acabou, contudo, por ser gravemente ferido na acção revolucionária.
No depoimento recolhido por Maria Manuela Cruzeiro, e no depoimento gravado pela RTP (vd. vídeo deste artigo), evoca com emoção os inúmeros gestos solidários do povo de Beja, num momento em que a cidade vivia em autêntico estado de sítio e em que pessoas anónimas, desde motoristas de táxis a enfermeiras ou porteiros faziam questão de apoiá-la.

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