terça-feira, fevereiro 08, 2011

Em Portugal Camas dos Hospitais Estão a Substituir Lares

Famílias pedem mais apoio do Estado para colocar idosos em lares e medicamentos




Pedir ajuda para colocar um idoso com alta hospitalar num lar, para ter medicamentos de graça ou para pagar o taxi para casa depois de deixar o internamento. A crise e o desemprego estão a levar mais doentes aos serviços sociais dos hospitais. Só no Amadora-Sintra (HAS), um dos maiores da zona de Lisboa, foram atendidos mais 439 utentes (total de 7439) em 2010, a maioria por dificuldades económicas. A demora da resposta da Segurança Social a estes pedidos, alertam alguns hospitais, leva também muitos doentes a continuarem internados apesar de não precisarem. No HAS há 43 casos destes.



"São idosos que, após alta clínica, permanecem em camas de hospital, apenas por motivo social, aguardando resposta da Segurança Social para integração em lar", explicou ao DN Adélia Gomes, coordenadora do Serviço Social do HAS. A maioria não têm família, ou esta não tem possibilidade de os manter em casa devido à sua dependência, e não tem meios para pagar um lar privado. O que pode custar, em média, 1200 euros.



No Hospital Garcia de Orta, em Almada, o problema é semelhante, embora de menor dimensão. No início do ano, havia três doentes à espera de lugar num lar, um desde Julho, e mais oito à espera de entrar numa unidade de cuidados continuados (ver texto ao lado). Para evitar que as camas fiquem lotadas com estes casos, o hospital paga oito lugares em lares da região, que estão sempre ocupados. Ali estão agora sete doentes à espera de lugar na rede pública.



A subida dos casos sociais problemáticos também foi sentida em 2010, e já vem acontecendo desde 2008. A maioria são idosos que precisam de um lugar para ficar. "Desde Julho, conseguimos apenas colocar três doentes em lares", afirmou ao DN fonte oficial do hospital, sublinhando as dificuldades das famílias em conciliar a vida profissional com a pessoal, de modo a cuidar dos seus familiares, e em pagar instituições privadas.



Nos Hospitais da Universidade de Coimbra há o mesmo problema em obter comparticipação do Estado para integrar idosos em lares e há utentes internados durante meses. "As famílias vivem grandes dificuldades. Mas sempre tivemos problemas sociais", diz Isabel Ventura, do Serviço Social, lembrando que há ainda solicitações dos doentes para apoio nos remédios ou no transporte.



Os serviços sociais do Hospital de Faro e do Santa Maria, em Lisboa, não têm informação para dizer se a crise fez disparar os casos sociais. Mas se a Sul se registaram mais pedidos de remédios de doentes da urgência e da consulta externa, em Lisboa há também a percepção de que, pessoas que antes não tinham necessidade de apoio, pedem-no agora por estarem desempregadas.



No Hospital de Santo António, no Porto, o cenário é inverso e há até uma descida de 8% dos casos sociais em 2010. Nos últimos três anos, baixou bastante o número de utentes colocados em lares. Por um lado, por falta de resposta da Segurança Social, mas também porque agora muitos seguem para a rede de cuidados continuados, diz o hospital. O Instituto de Segurança Social diz que sempre houve dificuldade em colocar utentes: a rede é insuficiente, embora tenha sido melhorada. "Mas desconheço um agravamento da situação. Com a rede de cuidados continuados, até melhorou", disse ao DN Edmundo Martinho.

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