Assistente social critica o sistema de ensino do País,
cuja participação de negros no ensino médio é de 42,2%
Priscilla Borges,
Priscilla Borges,
iG Brasília 23/05/2010 08:00
O ensino superior é a principal alavanca para quem deseja conquistar melhores empregos e salários. Chegar lá, porém, não é um caminho simples para todos os jovens brasileiros. Muitos têm desistido antes mesmo de terminar a educação básica, cuja conclusão define a conquista de melhores postos de trabalho ou o alcance de uma vaga na universidade. Se entre os jovens brancos o cenário é ruim, entre os negros piora.
Enquanto 61% dos adolescentes brancos frequentam o ensino médio, a presença dos jovens negros nessa etapa é de 42,2%. Os dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad) 2008 mostram que houve melhora nessa participação. Em 1998, a quantidade de negros matriculados no ensino médio era três vezes menor.
A mudança é percebida também nos dados de analfabetismo. Entre os 4 milhões de jovens analfabetos do País com idade entre 15 e 29 anos, os negros representam o dobro dos brancos. Em 1998, a diferença era três vezes maior. A taxa de analfabetismo entre a população jovem branca é de 6,2% e, entre a negra, 13,6%, de acordo com a Pnad.Observando a taxa de crianças matriculadas no ensino fundamental, que era de 97,6% em 2008, se ignora que os 2,4% que estão fora da escola representam 680 mil crianças. Desse total, a maioria é negra: 450 mil. “A educação é fundamental para eliminar ou manter os preconceitos. Ela reproduz e produz todas as formas de discriminação. A escola está em função de uma elite”, critica a assistente social Cristiana dos Santos Luiz.
Na adolescência, Cristiana foi, em mais de uma ocasião, a única aluna negra do curso de línguas e do cursinho. Percebia que algo estava errado naquela situação, que a fazia sentir o peso do preconceito o tempo todo. “Isso me assustava muito. Os preconceitos costumam ser velados e naturalizados”, analisa.
Filha de uma funcionária pública que cuidava dos oito filhos sozinha, Cristiana decidiu não prosseguir os estudos quando concluiu o ensino médio. Fez outros cursos de capacitação, trabalhou. Quando voltou a estudar para o vestibular, desistiu de seguir o sonho de criança de ser médica e preferiu o serviço social. Queria mudar a realidade em que vivia.
Cristiana, hoje com 32 anos, não entrou pelas cotas. O programa ainda não existia na Universidade de Brasília, onde estudou. Não tinha colegas negros brasileiros. Apenas africanos circulavam nos corredores. As cotas, para ela, foram uma oportunidade de estudar a população negra e seus desafios, e uma possibilidade de dar mais poder aos negros. “Conhecimento é poder”, diz.
Para a assistente social, o Brasil precisa se reconhecer como racista para mudar. “Ocupar espaços e diminuir a desigualdade não significa diminuir o racismo. Para se eliminar a discriminação, é preciso entender que existe o problema”, comenta.
O ensino superior é a principal alavanca para quem deseja conquistar melhores empregos e salários. Chegar lá, porém, não é um caminho simples para todos os jovens brasileiros. Muitos têm desistido antes mesmo de terminar a educação básica, cuja conclusão define a conquista de melhores postos de trabalho ou o alcance de uma vaga na universidade. Se entre os jovens brancos o cenário é ruim, entre os negros piora.
Enquanto 61% dos adolescentes brancos frequentam o ensino médio, a presença dos jovens negros nessa etapa é de 42,2%. Os dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad) 2008 mostram que houve melhora nessa participação. Em 1998, a quantidade de negros matriculados no ensino médio era três vezes menor.
A mudança é percebida também nos dados de analfabetismo. Entre os 4 milhões de jovens analfabetos do País com idade entre 15 e 29 anos, os negros representam o dobro dos brancos. Em 1998, a diferença era três vezes maior. A taxa de analfabetismo entre a população jovem branca é de 6,2% e, entre a negra, 13,6%, de acordo com a Pnad.Observando a taxa de crianças matriculadas no ensino fundamental, que era de 97,6% em 2008, se ignora que os 2,4% que estão fora da escola representam 680 mil crianças. Desse total, a maioria é negra: 450 mil. “A educação é fundamental para eliminar ou manter os preconceitos. Ela reproduz e produz todas as formas de discriminação. A escola está em função de uma elite”, critica a assistente social Cristiana dos Santos Luiz.
Na adolescência, Cristiana foi, em mais de uma ocasião, a única aluna negra do curso de línguas e do cursinho. Percebia que algo estava errado naquela situação, que a fazia sentir o peso do preconceito o tempo todo. “Isso me assustava muito. Os preconceitos costumam ser velados e naturalizados”, analisa.
Filha de uma funcionária pública que cuidava dos oito filhos sozinha, Cristiana decidiu não prosseguir os estudos quando concluiu o ensino médio. Fez outros cursos de capacitação, trabalhou. Quando voltou a estudar para o vestibular, desistiu de seguir o sonho de criança de ser médica e preferiu o serviço social. Queria mudar a realidade em que vivia.
Cristiana, hoje com 32 anos, não entrou pelas cotas. O programa ainda não existia na Universidade de Brasília, onde estudou. Não tinha colegas negros brasileiros. Apenas africanos circulavam nos corredores. As cotas, para ela, foram uma oportunidade de estudar a população negra e seus desafios, e uma possibilidade de dar mais poder aos negros. “Conhecimento é poder”, diz.
Para a assistente social, o Brasil precisa se reconhecer como racista para mudar. “Ocupar espaços e diminuir a desigualdade não significa diminuir o racismo. Para se eliminar a discriminação, é preciso entender que existe o problema”, comenta.
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