Ontem estive na Feira do Livro de Lisboa ,este ano dedicada ao Brasil.
Comprei alguns livros para mim e para as minhas reflexões ( Swift, de Rui Barbosa ).
Encontrei os meus amigos e patricios (Luis Sepulveda) e construi novas amizades para o CPIHTS.
Recebi os raspanetes da minha amiga Alice Viera por causa das demoras em entregar o livro infantil que escrevemos juntos.
Não sabia que alguns dos meus colegas esgotaram livros (Ezequiel ander Egg,Miryan Veras Baptista, Alcina Martins, Jose Paulo Netto, Josefina Figueira, Julia Cardoso) e que outras eram famosas sem querer querendo ( Rosa Tomé, Marlene Rodrigues).
No Pavilhão do Brasil encontrei uma revista excelente e que deixo o meu testemunho.
(...)
A memória afetiva da escravidão
Fotografias de Militão de Azevedo revelam a trajetória da relação ambígua entre as amas-de-leite e as crianças de seus senhores
Rafaela de Andrade Deiab
A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. (...) Quanto a mim, absorvi-a no leite preto que me amamentou; ela envolveu-me como uma carícia muda toda a minha infância (...).” A frase de Joaquim Nabuco (1850-1910) mostra como a escravidão deixou marcas profundas naqueles que cresceram durante o período em que ela era vigente no Brasil, cerca de três séculos (até 1888). Em sua autobiografia, Minha formação, Nabuco revela o quanto sua experiência infantil no engenho pernambucano de Massangana, convivendo com os escravos, foi determinante para seu futuro como defensor da causa abolicionista.
No entanto, foram inúmeras as gerações que se formaram embaladas no colo das escravas domésticas, amas-de-leite, mães pretas. Essa relação social criada no cenário da escravidão imortalizou-se em inúmeros retratos por todo o Brasil. O fotógrafo Militão Augusto de Azevedo (1837-1905) fez muitas dessas imagens em seu estúdio em São Paulo. Ainda jovem, começou sua carreira de retratista como aprendiz no ateliê Carneiro & Gaspar, o qual veio a comprar em 1875, alterando-lhe o nome para Photographia Americana. Por esses dois ateliês passaram por volta de 12 mil pessoas, entre 1862 e 1885, cujos retratos ainda se preservam em seis álbuns, que funcionavam como catálogo dos negativos de Militão. Essa indústria de retratos, que se estabiliza no país na segunda metade do século XIX, trouxe certos padrões que se repetiam nas variadas fotografias, fosse em seus formatos (como no clássico carte de visite, com imagens colocadas em suporte rígido de cartão), nos paramentos (fundo, móveis, tapetes) e também nas posições dos clientes. No entanto, alguns desses esquemas que chegam junto com a técnica fotográfica, supostamente neutra, são relidos em diferentes contextos; e isso fica evidente nas imagens de amas com crianças.
A mãe segurando a criança junto ao rosto, apoiando-lhe a cabeça, ou mesmo as costas, com as mãos, era um padrão internacional da época para fotografias com bebês. Isso porque, em função da baixa sensibilidade do negativo, o tempo de exposição era muito longo (por volta de um minuto), sendo complicado manter as crianças imóveis. Aproximar as crianças junto ao rosto e segurá-las pelo dorso era a maneira de obter, portanto, uma postura estática. Mas esse modelo de pose, trazido da Europa juntamente com a fotografia e fotógrafos, foi absorvido segundo a cultura local, de modo que, em muitas imagens (como as apresentadas neste artigo), uma negra posa com a criança branca. Ou seja, em poses internacionalmente indicadas para unir nas fotos mães e filhos, na São Paulo de meados do século XIX, surgem mães pretas acompanhadas de filhos brancos, termos próprios de um contexto marcado pela escravidão doméstica, que promoveu múltiplas relações entre senhores e escravos.
Fotografias de Militão de Azevedo revelam a trajetória da relação ambígua entre as amas-de-leite e as crianças de seus senhores
Rafaela de Andrade Deiab
A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. (...) Quanto a mim, absorvi-a no leite preto que me amamentou; ela envolveu-me como uma carícia muda toda a minha infância (...).” A frase de Joaquim Nabuco (1850-1910) mostra como a escravidão deixou marcas profundas naqueles que cresceram durante o período em que ela era vigente no Brasil, cerca de três séculos (até 1888). Em sua autobiografia, Minha formação, Nabuco revela o quanto sua experiência infantil no engenho pernambucano de Massangana, convivendo com os escravos, foi determinante para seu futuro como defensor da causa abolicionista.
No entanto, foram inúmeras as gerações que se formaram embaladas no colo das escravas domésticas, amas-de-leite, mães pretas. Essa relação social criada no cenário da escravidão imortalizou-se em inúmeros retratos por todo o Brasil. O fotógrafo Militão Augusto de Azevedo (1837-1905) fez muitas dessas imagens em seu estúdio em São Paulo. Ainda jovem, começou sua carreira de retratista como aprendiz no ateliê Carneiro & Gaspar, o qual veio a comprar em 1875, alterando-lhe o nome para Photographia Americana. Por esses dois ateliês passaram por volta de 12 mil pessoas, entre 1862 e 1885, cujos retratos ainda se preservam em seis álbuns, que funcionavam como catálogo dos negativos de Militão. Essa indústria de retratos, que se estabiliza no país na segunda metade do século XIX, trouxe certos padrões que se repetiam nas variadas fotografias, fosse em seus formatos (como no clássico carte de visite, com imagens colocadas em suporte rígido de cartão), nos paramentos (fundo, móveis, tapetes) e também nas posições dos clientes. No entanto, alguns desses esquemas que chegam junto com a técnica fotográfica, supostamente neutra, são relidos em diferentes contextos; e isso fica evidente nas imagens de amas com crianças.
A mãe segurando a criança junto ao rosto, apoiando-lhe a cabeça, ou mesmo as costas, com as mãos, era um padrão internacional da época para fotografias com bebês. Isso porque, em função da baixa sensibilidade do negativo, o tempo de exposição era muito longo (por volta de um minuto), sendo complicado manter as crianças imóveis. Aproximar as crianças junto ao rosto e segurá-las pelo dorso era a maneira de obter, portanto, uma postura estática. Mas esse modelo de pose, trazido da Europa juntamente com a fotografia e fotógrafos, foi absorvido segundo a cultura local, de modo que, em muitas imagens (como as apresentadas neste artigo), uma negra posa com a criança branca. Ou seja, em poses internacionalmente indicadas para unir nas fotos mães e filhos, na São Paulo de meados do século XIX, surgem mães pretas acompanhadas de filhos brancos, termos próprios de um contexto marcado pela escravidão doméstica, que promoveu múltiplas relações entre senhores e escravos.
alfredo henriquez
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