41% das moradias em favelas são de restos de construção
Tisa Moraes/Colaborou Luciana La Fortezza
Madeira ou restos de construção. Eis aí a matéria-prima utilizada para erguer 41,4% das moradias situadas em favelas de Bauru. A informação consta na pesquisa “Caracterização das famílias residentes em favelas no município de Bauru: um estudo sobre o perfil socioeconômico”, realizado neste ano pela Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes) em parceria com alunos da Faculdade de Serviço Social de Bauru da Instituição Toledo de Ensino (ITE).O apontamento não deve surpreender nem mesmo a mais desatenta das pessoas, uma vez que a precarização dos imóveis, por si só, tornou-se estereótipo do que convencionou-se denominar favela. Difícil mesmo é viver dentro delas. De tão frágil, não aplaca o calor no verão. No inverno, as frestas por onde o vento transita aumentam a sensação térmica. Elas também dão passagem ao frio e até a bichos e insetos.Quem mora na favela Maria Célia convive com medo de aranhas, cobras e escorpiões. Um deles não poupou Alessandra Oliveira, 22 anos, quando estava preparando o leite do filho Miguel, de 9 meses. Era madrugada. Superado o problema, ontem ela não tinha água para banhar seu rebento. O abastecimento foi cortado na área por falta de pagamento, informaram os moradores.“Como vamos pagar? Os valores são altos. A gente vai agradecer se chover. As casas são feitas com madeira que se consegue em bolsão de lixo”, explica Marilaine Gomes de Almeida, uma vizinha de Alessandra. Ela, que já morou sob lona em São Paulo, pagou R$ 600,00 pelo teto que hoje a abriga, junto com seus sete filhos e uma amiga grávida.“Hoje não pago nem R$ 250,00. Moramos aqui porque não temos opções. Estamos abandonados. A única coisa boa é a solidariedade entre a gente. Meu sonho é ter uma casa de alvenaria, com uma varanda e seis cômodos”, comenta. Seu imóvel atual tem cinco, onde se acomodam nove pessoas. Mas de acordo com o estudo apresentado ontem, em cada um dos barracos vivem de 3 a 4 pessoas, em média. Cerca de 11,5% delas estão desempregadas. Outras 18% declararam obter seu sustento trabalhando no mercado informal e apenas 11,85% se consideraram efetivamente assalariadas. A esmagadora maioria dos moradores ainda carece de asfalto, um dos serviços que permanecem como grande desafio para o município. No estudo da Sebes, a pavimentação das ruas de terra ainda não chegou a 92% das favelas bauruenses. “A falta de asfalto provoca conseqüências na qualidade da saúde, de segurança, de transporte e trabalho dessas populações”, reconhece a titular da pasta, Egli Muniz.No entanto, ela frisa que o levantamento realizado pela secretaria servirá como ferramenta para que a próxima gestão possa traçar políticas públicas de urbanização para essas comunidades. “É um conjunto de dados que deixamos para que a próxima administração possa fazer um planejamento integrado, junto a todas as secretarias municipais, para melhorar a condição de vida dessas comunidades”, pontua.
____________________Da favela à UnespMoradora da favela Maria Célia, Viviane Carvalho, 23 anos, ainda tem esperanças de cursar o ensino superior. Quer tornar-se uma enfermeira, embora ainda não tenha concluído o ensino médio. Suas expectativas ganham força porque a irmã, que morou no mesmo local, atualmente cursa matemática na Universidade Estadual Paulista (Unesp).“Quando ela passou, morava aqui. Depois casou e foi morar no Gasparini. Ela sempre correu atrás, se dedicou”, comenta. Neste caso, o empenho individual prevalece em relação às políticas públicas, na avaliação do antropólogo Cláudio Bertolli Filho, professor do Departamento de Ciências Humanas da Unesp de Bauru. “Você pega casos aqui (na universidade) que o indivíduo vai buscar (conhecimento) fora do ensino formal”, explica.
____________________NúmerosSegundo levantamento de 2004 da Defesa Civil de Bauru, o município tem 2.215 famílias vivendo em favelas. Deste total, 1.080 foram consultadas durante a elaboração da pesquisa “Caracterização das famílias residentes em favelas no município de Bauru: um estudo sobre o perfil socioeconômico”, realizado neste ano pela Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes) em parceria com alunos da Faculdade de Serviço Social de Bauru da Instituição Toledo de Ensino (ITE).O estudo não teve a pretensão de atualizar os números de quatro anos atrás, segundo informações obtidas na Sebes.
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____________________Da favela à UnespMoradora da favela Maria Célia, Viviane Carvalho, 23 anos, ainda tem esperanças de cursar o ensino superior. Quer tornar-se uma enfermeira, embora ainda não tenha concluído o ensino médio. Suas expectativas ganham força porque a irmã, que morou no mesmo local, atualmente cursa matemática na Universidade Estadual Paulista (Unesp).“Quando ela passou, morava aqui. Depois casou e foi morar no Gasparini. Ela sempre correu atrás, se dedicou”, comenta. Neste caso, o empenho individual prevalece em relação às políticas públicas, na avaliação do antropólogo Cláudio Bertolli Filho, professor do Departamento de Ciências Humanas da Unesp de Bauru. “Você pega casos aqui (na universidade) que o indivíduo vai buscar (conhecimento) fora do ensino formal”, explica.
____________________NúmerosSegundo levantamento de 2004 da Defesa Civil de Bauru, o município tem 2.215 famílias vivendo em favelas. Deste total, 1.080 foram consultadas durante a elaboração da pesquisa “Caracterização das famílias residentes em favelas no município de Bauru: um estudo sobre o perfil socioeconômico”, realizado neste ano pela Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes) em parceria com alunos da Faculdade de Serviço Social de Bauru da Instituição Toledo de Ensino (ITE).O estudo não teve a pretensão de atualizar os números de quatro anos atrás, segundo informações obtidas na Sebes.
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Perfil das favelas de BauruLevantamento realizado com 1.080 famílias, ou 4.066 moradores, de 22 favelas da cidade
• 63,8% residem há mais de 5 anos em Bauru• 30,5% residem entre 7 e 12 anos no mesmo bairro
• 95,37% possuem água encanada•
67,5% possuem acesso à rede pública de esgoto
• 86,3% têm acesso à coleta pública de lixo domiciliar
• 91,94% não têm acesso a asfalto• 69,26% das casas têm relógio de consumo de energia elétrica
• 68,4% têm moradia própria (mas não a posse do terreno)
• 48,8% das casas possuem de 4 a 5 cômodos• 55,5% das casas possuem de 2 a 3 quartos
• 86,1% das casas possuem apenas 1 banheiro
• 58,6% das moradias são feitas em alvenaria
• 67,31% das famílias têm mais de 3 equipamentos domésticos• 54,35% das famílias têm mais de 3 equipamentos de comunicação
• 35,9% utilizam bicicleta como principal meio de locomoção
• 20,26% têm entre 26 e 40 anos• 50,13% são do sexo masculino
• 53,53% possuem o ensino fundamental incompleto• 40,08% são estudantes• 38,8% das famílias possuem de 3 a 4 membros
• 36,4% possuem renda familiar de um a dois salários mínimos
• 32,3% das famílias possuem renda per capita de até ¼ de salário mínimo
• 57,41% não estão cadastrados no Centro de Referência em Assistência Social (Cras)• 58,33% não recebem nenhum tipo de benefício assistencial. Dos que recebem, 85,6% são auxiliados pelo Bolsa-Família
• 88,7% não recebem nenhum tipo de ajuda em espécie. Dos que recebem, 70,9% são auxiliados com cestas básicas.
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