quarta-feira, novembro 19, 2008

A Universidad espahola, A Pior de 17 Países Avanzados

Que la universidad española no resiste una mínima comparación seria con las de su entorno es de sobra conocido y cada nuevo análisis que aparece confirma el desastre de la educación superior en España. En el que hoy va a hacer público el Lisbon Council, un centro de estudios sobre asuntos europeos de Bruselas, España ocupa el último lugar en un ránking sobre la calidad de los sistemas educativos superiores en 15 países de Europa más Estados Unidos y Australia.
El trabajo, preparado por tres expertos del Lisbon Council, emplea una metodología innovadora y probablemente necesitada de ajustes que tabula seis criterios prácticos. Entre ellos, la inclusividad -el número de titulados que un país produce con respecto a la población en edad de estudiar), efectividad -la capacidad de producir titulados con capacidades adaptadas a las necesidades del mercado de trabajo del país- o respuesta -la capacidad del sistema de reformarse y cambiar para adaptarse-. Son criterios que rompen con criterios más objetivos de excelencia como los del ranking de la universidad de Shanghai, que contabiliza premios Nobel entre su profesorado y ex alumnos o el número de citas en revistas científicas.
Pero el resultado final es igual de tenebroso y de alarmante ante un mundo globalizado en el que la calidad del capital humano es el principal y más determinante factor del éxito económico de un país. La resultante de todos los elementos tabulados coloca a España a la cola de un grupo que encabezan Australia, Reino Unido y Dinamarca. De nuestros vecinos, Portugal ocupa el octavo puesto y Francia, el décimo.
Divorcio del mercado
Los autores subrayan que España ocupa lugares mediocres como el undécimo en ' inclusividad' (el porcentaje de problación en edad estudiantil que acude a la universidad, con el 33%) o el séptimo en ' educación para àdultos' (un 3,6% de estudiantes de entre 30 y 39 años) y subrayan como particularmente desalentador el puesto 16 en ' efectividad' , que mide el reflejo salarial en el mercado de trabajo de la titulación superior. España tiene que "trabajar para restaurar el equilibrio entre las materias enseñadas en la universidad y el mercado laboral".
"Si quiere mejorar, España debe hacer más para modernizar su sistema educativo y acercarlo a los estándares europeos (a lo que ayudaría avanzar en los criterios de Bolonia)", se lee en el documento. Además del farolillo rojo global, el sistema universitario español ocupa el último lugar en 'respuesta' , medida como la capacidad de cumplir los compromisos adquiridos en 1999 en Bolonia para hacer realidad la titulación superior homologable a escala europea en 2010, lo que suponía ofrecer nuevos programas de estudios a partir de 2006.
Con esos antecedentes y deficiencias es lógico que sólo un 2% de universitarios extranjeros acudan a realizar sus estudios en España, por más que sea repetidamente el país favorito de los veinteañeros de la UE que eligen un país para pasar con el programa Erasmus uno de los que quedarán como de los mejores años de su vida.
http://www.lisboncouncil.net/media/lisbon_council_policy_brief_usr2008.pdf

veja el http://www.elpais.com/articulo/sociedad/Universidad/espanola/peor/paises/avanzados/elpepisoc/20081118elpepisoc_2/Tes

Universidade de Serviço Social estudan condiões de moradores de Favelas


41% das moradias em favelas são de restos de construção
Tisa Moraes/Colaborou Luciana La Fortezza
Madeira ou restos de construção. Eis aí a matéria-prima utilizada para erguer 41,4% das moradias situadas em favelas de Bauru. A informação consta na pesquisa “Caracterização das famílias residentes em favelas no município de Bauru: um estudo sobre o perfil socioeconômico”, realizado neste ano pela Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes) em parceria com alunos da Faculdade de Serviço Social de Bauru da Instituição Toledo de Ensino (ITE).O apontamento não deve surpreender nem mesmo a mais desatenta das pessoas, uma vez que a precarização dos imóveis, por si só, tornou-se estereótipo do que convencionou-se denominar favela. Difícil mesmo é viver dentro delas. De tão frágil, não aplaca o calor no verão. No inverno, as frestas por onde o vento transita aumentam a sensação térmica. Elas também dão passagem ao frio e até a bichos e insetos.Quem mora na favela Maria Célia convive com medo de aranhas, cobras e escorpiões. Um deles não poupou Alessandra Oliveira, 22 anos, quando estava preparando o leite do filho Miguel, de 9 meses. Era madrugada. Superado o problema, ontem ela não tinha água para banhar seu rebento. O abastecimento foi cortado na área por falta de pagamento, informaram os moradores.“Como vamos pagar? Os valores são altos. A gente vai agradecer se chover. As casas são feitas com madeira que se consegue em bolsão de lixo”, explica Marilaine Gomes de Almeida, uma vizinha de Alessandra. Ela, que já morou sob lona em São Paulo, pagou R$ 600,00 pelo teto que hoje a abriga, junto com seus sete filhos e uma amiga grávida.“Hoje não pago nem R$ 250,00. Moramos aqui porque não temos opções. Estamos abandonados. A única coisa boa é a solidariedade entre a gente. Meu sonho é ter uma casa de alvenaria, com uma varanda e seis cômodos”, comenta. Seu imóvel atual tem cinco, onde se acomodam nove pessoas. Mas de acordo com o estudo apresentado ontem, em cada um dos barracos vivem de 3 a 4 pessoas, em média. Cerca de 11,5% delas estão desempregadas. Outras 18% declararam obter seu sustento trabalhando no mercado informal e apenas 11,85% se consideraram efetivamente assalariadas. A esmagadora maioria dos moradores ainda carece de asfalto, um dos serviços que permanecem como grande desafio para o município. No estudo da Sebes, a pavimentação das ruas de terra ainda não chegou a 92% das favelas bauruenses. “A falta de asfalto provoca conseqüências na qualidade da saúde, de segurança, de transporte e trabalho dessas populações”, reconhece a titular da pasta, Egli Muniz.No entanto, ela frisa que o levantamento realizado pela secretaria servirá como ferramenta para que a próxima gestão possa traçar políticas públicas de urbanização para essas comunidades. “É um conjunto de dados que deixamos para que a próxima administração possa fazer um planejamento integrado, junto a todas as secretarias municipais, para melhorar a condição de vida dessas comunidades”, pontua.
____________________Da favela à UnespMoradora da favela Maria Célia, Viviane Carvalho, 23 anos, ainda tem esperanças de cursar o ensino superior. Quer tornar-se uma enfermeira, embora ainda não tenha concluído o ensino médio. Suas expectativas ganham força porque a irmã, que morou no mesmo local, atualmente cursa matemática na Universidade Estadual Paulista (Unesp).“Quando ela passou, morava aqui. Depois casou e foi morar no Gasparini. Ela sempre correu atrás, se dedicou”, comenta. Neste caso, o empenho individual prevalece em relação às políticas públicas, na avaliação do antropólogo Cláudio Bertolli Filho, professor do Departamento de Ciências Humanas da Unesp de Bauru. “Você pega casos aqui (na universidade) que o indivíduo vai buscar (conhecimento) fora do ensino formal”, explica.
____________________NúmerosSegundo levantamento de 2004 da Defesa Civil de Bauru, o município tem 2.215 famílias vivendo em favelas. Deste total, 1.080 foram consultadas durante a elaboração da pesquisa “Caracterização das famílias residentes em favelas no município de Bauru: um estudo sobre o perfil socioeconômico”, realizado neste ano pela Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes) em parceria com alunos da Faculdade de Serviço Social de Bauru da Instituição Toledo de Ensino (ITE).O estudo não teve a pretensão de atualizar os números de quatro anos atrás, segundo informações obtidas na Sebes.
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Perfil das favelas de BauruLevantamento realizado com 1.080 famílias, ou 4.066 moradores, de 22 favelas da cidade
• 63,8% residem há mais de 5 anos em Bauru• 30,5% residem entre 7 e 12 anos no mesmo bairro
• 95,37% possuem água encanada•
67,5% possuem acesso à rede pública de esgoto
• 86,3% têm acesso à coleta pública de lixo domiciliar
• 91,94% não têm acesso a asfalto• 69,26% das casas têm relógio de consumo de energia elétrica
• 68,4% têm moradia própria (mas não a posse do terreno)
• 48,8% das casas possuem de 4 a 5 cômodos• 55,5% das casas possuem de 2 a 3 quartos
• 86,1% das casas possuem apenas 1 banheiro
• 58,6% das moradias são feitas em alvenaria
• 67,31% das famílias têm mais de 3 equipamentos domésticos• 54,35% das famílias têm mais de 3 equipamentos de comunicação
• 35,9% utilizam bicicleta como principal meio de locomoção
• 20,26% têm entre 26 e 40 anos• 50,13% são do sexo masculino
• 53,53% possuem o ensino fundamental incompleto• 40,08% são estudantes• 38,8% das famílias possuem de 3 a 4 membros
• 36,4% possuem renda familiar de um a dois salários mínimos
• 32,3% das famílias possuem renda per capita de até ¼ de salário mínimo
• 57,41% não estão cadastrados no Centro de Referência em Assistência Social (Cras)• 58,33% não recebem nenhum tipo de benefício assistencial. Dos que recebem, 85,6% são auxiliados pelo Bolsa-Família
• 88,7% não recebem nenhum tipo de ajuda em espécie. Dos que recebem, 70,9% são auxiliados com cestas básicas.

terça-feira, novembro 18, 2008

Fracasso Escolar No ensino Espanhol Preocupa Especialistas

"Es preocupante que España tenga un 30% de fracaso escolar
La forma de enseñar, la gestión del sistema educativo y de los centros escolares, la vinculación de éstos con el entorno social de los niños... y el fomento de la lectura, la escritura, la expresión oral. Todo esto debe estar en el punto de mira de todo buen gobernante que quiera que en su país se formen ciudadanos que sean capaces, ya no sólo de leer y escribir, sino de comprender asuntos públicos, las complejidades de la economía y todos los aspectos que integran una democracia madura. Fernando Reimers (Caracas, 1959) parte de esta reflexión para analizar con una perspectiva como pocos expertos en educación tienen de las necesidades de este mundo globalizado.
Experto en Latinoamérica (actualmente está realizando estudios en Brasil y México) y en equidad educativa, pero lleva 25 años viviendo en Estados Unidos, donde ejerce como catedrático de educación internacional y comparada en la escuela de postgrado en educación de la Universidad de Harvard y dirige el programa internacional de políticas educativas. Reimers presenta hoy en Madrid el informe Leer (comprender y aprender) y escribir para comunicarse. Desafíos y oportunidades para los sistemas educativos. Con este texto arranca la XXIII Semana Monográfica de la Educación que organiza la Fundación Santillana y que en esta ocasión está dedicada a La lectura en la sociedad de la información.
Pregunta. ¿Qué competencias deben adquirir en la escuela los ciudadanos del siglo XXI para estar preparados para un mundo tan globalizado?
Respuesta. Hay una estrecha relación entre las competencias de comunicación y las competencias ciudadanas, y ambas son desde siempre objeto principal de la escuela. La escuela pública como la conocemos es el resultado de las ideas de Rousseau, que planteaba que es el contrato social el que permite la virtud, lo que hace que los seres humanos mejoren, a través de la acción colectiva, en las sociedades en las que viven. Con el tiempo, a medida que las concepciones de ciudadanía van evolucionando también lo hacen las concepciones sobre qué significa leer y en consecuencia sobre la mejor forma de hacerlo.
P. ¿Cree que es importante enfatizar en la educación para la comunicación oral, con exposiciones en clase y en los exámenes, y prestar especial atención, incluso a la hora de evaluar, a cómo se expresan los estudiantes?
R. El desarrollo de la comprensión lectora es facilitado por un buen desarrollo del lenguaje oral, y a su vez la lectura apoya el desarrollo del lenguaje oral. Sabemos que los niños con un vocabulario más desarrollado aprenden a leer mas fácilmente. El desarrollo del lenguaje oral que se produce antes de que los niños inicien la escolaridad es muy importante, y también lo es continuarlo después.
P. Las políticas para el fomento de la lectura son clave en todos los niveles de desarrollo de la educación. España ha obtenido muy malos resultados en comprensión lectora en los estudios internacionales, como el de competencia lectora PIRLS y el Informe Pisa de la Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económico (OCDE). ¿Cuál cree que es el principal problema?
R. Hace un siglo o dos se consideraba que aprender a leer era algo que se lograba al adquirir las competencias básicas de decodificación. Actualmente, la codificación de textos simples, si bien tal vez sea suficiente para tomar el autobús o el metro, no lo es para aprender a lo largo de toda la vida o para comprender diversos textos sobre asuntos públicos. Ambas condiciones son esenciales para participar en economías basadas en el conocimiento o en democracias complejas. Y es cierto que los niveles de desempeño de los estudiantes españoles son más bajos que los de otros países de la OCDE. En la prueba de lectura PIRLS llevada a cabo en el año 2006, sólo el 5% de los estudiantes logran los niveles de lectura más altos, en comparación con el 15% o más de Singapur, Rusia, Canadá, Bulgaria, Inglaterra, Luxemburgo, o Hong Kong. En el Informe Pisa de 2006 en las mediciones de comprensión lectora también puntúan los jóvenes españoles significativamente por debajo de sus pares en los países de la OCDE. Es importante organizar encuentros de expertos para analizar las causas.
P. El 30% de los alumnos españoles no logra el título mínimo de secundaria, el de la ESO.
R. El que un tercio de los estudiantes en España no logren culminar la Educación Secundaria Obligatoria (ESO), a casi 20 años de que la ley propusiera esa reforma educativa es preocupante. Lo es especialmente porque uno de los resultados de la globalización es precisamente dar mayores oportunidades a las personas con mayor nivel de preparación. Va siendo cada vez más difícil, tanto en España como en Estados Unidos y en otras economías intermedias y avanzadas, mantener un nivel de vida razonable para quienes no han concluido la educación secundaria.
P. Como especialista en educación cívica, ¿qué opina de la polémica desatada en España por la implantación de una asignatura obligatoria sobre Educación para la Ciudadanía?
R. No conozco todos los ángulos de la polémica que existen en España sobre esta asignatura, por lo cual sólo puedo hacer apreciaciones de carácter general sobre la importancia de desarrollar competencias ciudadanas. Pienso que la buena educación es multidimensional. Hay una dimensión de excelencia académica que es muy importante, y hay una dimensión ética, de valores, que también lo es. Educar no es informar, sino desarrollar el talento, y también el carácter de las personas.
La convivencia en sociedades democráticas pluralistas es posible sólo reconociendo los derechos fundamentales de todas las personas y para ello la Declaración Universal de Derechos Humanos proporciona un excelente marco de referencia. Las formas violentas de resolver conflictos son experiencias demasiado presentes en la humanidad, y la violencia no está nunca demasiado lejos. Por ello es importante, es fundamental, ayudar a las nuevas generaciones a desarrollar competencias que les permitan resolver diferencias y conflictos de formas no violentas. Una de las bases de la no violencia es la tolerancia.
P. Hablando de institucionalidad democrática, ¿qué cambios se pueden esperar en la educación de Estados Unidos con Obama como presidente?
R. Las recientes elecciones en EE UU son verdaderamente históricas en muchos sentidos. Representan la elección de un hombre afroamericano de un origen social modesto para la presidencia del país. Considerando que el movimiento de derechos civiles por una mayor igualdad de oportunidades a miembros de diferentes razas se inicia en Estados Unidos apenas hace cincuenta años -en 1954, la Corte Suprema de Justicia declara inconstitucional la educación segregada que recibían estudiantes blancos y negros en muchas escuelas públicas del país- esta elección marca un hito en la búsqueda continua por hacer a la sociedad americana cada vez más democrática y justa.
En educación, hay que recordar que en Estados Unidos el Gobierno federal juega un papel relativamente modesto, contribuyendo con ocho centavos de cada dólar que se invierte en la educación primaria y secundaria. No existe, por ejemplo, un currículo nacional de estudios, ni sistemas nacionales de gestión y administración de la educación. En la última década ha habido un esfuerzo por ir definiendo estándares estatales, coordinados por legislación federal, la ley de No Child Left Behind, que debe ser ratificada en el próximo periodo de sesiones del Congreso.
Obama se refirió varias veces a la educación como un tema importante en su plataforma. Entre los temas educativos que mencionó en la campaña se encuentran la prioridad de la educación inicial; la importancia de apoyar la formación de maestros para poder lograr mejores niveles de eficacia escolar, y el interes en facilitar el acceso a la Universidad para una proporción mayor de estudiantes, por la vía de los créditos tributarios. Es probable que las iniciativas educativas más importantes de los próximos años resulten de la acción concertada del Congreso, grupos de la sociedad civil y el Ejecutivo.


*Es experto en políticas educativas y evaluación; ha asesorado en estos temas al presidente electo de EE UU, Barack Obama. Tiene claras las competencias que los niños deben desarrollar para moverse en el mundo globalizado del siglo XXI

in http://www.elpais.com/articulo/educacion/preocupante/Espana/tenga/fracaso/escolar/elpepusocedu/20081117elpepiedu_1/Tes

domingo, novembro 16, 2008

"Manual para levar de vencida os grupos de interesse" Uma Opinião antiga de Vital Moreira

Manual para levar de vencida os grupos de interesse

Para ilustrar a reacção popular à decisão do novo Governo de autorizar a aquisição dos medicamentos de venda livre fora das farmácias, a RTP, como habitualmente nestas ocasiões, procurou colher a opinião de algumas pessoas avulsas no domingo passado. Mais relevante do que as opiniões expressas é a cena em si mesma, que se passa frente a uma farmácia de serviço. A fila de pessoas à espera de atendimento estende-se para o exterior do estabelecimento. Não fora o dia primaveril, e o incómodo daqueles cidadãos seria bastante maior do que a demora em pé, ao ar livre. Provavelmente, diversas daquelas pessoas queriam adquirir medicamentos não sujeitos a receita médica. Se a medida anunciada pelo novo primeiro-ministro já estivesse em vigor, poderiam adquiri-los facilmente no supermercado mais próximo. Mais importante do que isso, se não existissem tantas restrições ao estabelecimento de novas farmácias, o número destas seria maior, pelo que a tal fila de espera seria provavelmente dispensável. Sendo desde há muito defensor da liberalização da propriedade das farmácias, recordo uma história que testemunhei, na minha breve passagem pela Assembleia da República em 1996-77. Deputados socialistas tinham apresentado dois projectos de lei tendentes ao levantamento total ou parcial das restrições ao estabelecimento de farmácias. Mas estes não chegaram sequer a ser discutidos. Interesses mais altos se levantaram e prevaleceram; os projectos que ficassem na gaveta. Quase dez anos se passaram, mantendo-se o arcaico regime de restrição à criação de farmácias, para único benefício das que estão instaladas e para prejuízo dos utentes e dos interesses do Estado.Ao contrário de alguns apressados observadores, não considero despiciendo nem deslocado o anúncio da referida reforma pelo primeiro-ministro no discurso de tomada de posse. Não tanto pelo que essa medida significa em si mesma - ainda que ela não seja irrelevante, em termos de maior disponibilidade desses medicamentos, de preços mais baixos e de mais emprego para os jovens farmacêuticos -, mas sobretudo pelo seu significado simbólico quanto à linha de conduta do Governo. Na verdade, é fácil tirar duas ilações decisivas. Primeiro, o novo Governo leva a sério a sua aposta numa economia de mercado eficiente e no valor primordial da concorrência; segundo, o Governo não vai respeitar os interesses instalados ao adoptar as soluções requeridas pelo interesse geral. Em primeiro lugar, é fácil perceber que esta iniciativa só pode constituir o primeiro passo para a abertura do mercado da venda de medicamentos, incluindo a eliminação das actuais barreiras à criação de farmácias, quer as que respeitam ao monopólio profissional (reserva para os farmacêuticos), quer sobretudo as que respeitam à capitação mínima por concelho e à distância mínima necessária entre as farmácias, nenhuma das quais tem paralelo na nossa ordem económica. Em segundo lugar, foi o próprio primeiro-ministro que expressamente considerou esta iniciativa como uma demonstração da prevalência do interesse geral sobre os "interesses particulares ou corporativos". Certamente há grupos de interesse mais poderosos e mais conservadores do que a ANF e o "lobby" farmacêutico no nosso país, embora não haja muitos outros tão visíveis e tão bem sucedidos na travagem da modernização do respectivo sector e na defesa de um mercado protegido, em prejuízo dos utentes.É neste registo que se deve ler a aparentemente insólita proclamação do primeiro-ministro. Para além da importância da medida em si mesma, trata-se de uma declaração de política geral e de um "aviso à navegação". Por um lado, a abertura do mercado dos medicamentos à concorrência é somente uma expressão de uma mesma preocupação geral que deve ser aplicada a todos os sectores da economia onde as limitações à concorrência mantêm elevados os preços de bens e serviços, como sucede ainda nas telecomunicações, na electricidade e no gás natural, nos combustíveis ou nos serviços profissionais, etc. Por outro lado, se há uma revolução a fazer em Portugal, ela consiste em fazer prevalecer o interesse geral contra os interesses sectoriais e corporativos. E são muitos, estes, desde as associações empresariais aos sindicatos, passando pelos grupos profissionais de elite (ordens profissionais em especial), desde a Igreja Católica e a Opus Dei à maçonaria, desde os magistrados aos militares, desde as universidades às câmaras municipais. Numa democracia liberal, os grupos de interesse são actores essenciais do jogo político, a par dos partidos políticos, competindo-lhes a tarefa de agregação e representação de interesses de grupos da mais variada ordem. Há mesmo teorias que concebem a democracia pluralista essencialmente como um mecanismo de livre formação e competição entre grupos de interesse organizados, de que o Estado deveria ser somente o regulador. Sucede, porém, que não existe igualdade de oportunidades na organização dos interesses de grupo, nem na sua capacidade de influência sobre o poder político. Mais grave do que isso, há duas categorias de interesses (que final são uma só...) que, pelo seu grande número, não têm a mesma capacidade de organização e de expressão que os grupos sectoriais, mais reduzidos e mais coesos. Trata-se dos consumidores e dos contribuintes, ou seja, os cidadãos em geral. Ora, a tarefa do poder político democrático é fazer prevalecer o interesse geral sobre os interesses sectoriais e as suas organizações. O pior que pode suceder é a "captura" do poder político pelos grupos de interesse, que passam a usá-lo em seu benefício, como tantas vezes sucede.Existem algumas regras elementares para levar de vencida os interesses organizados, que devem ser observadas sobretudo quando eles são especialmente poderosos, como são os que se movem na área da saúde, até pela sua capacidade de mobilizar de forma populista a insegurança e os receios dos cidadãos, pelos seus abundantes recursos financeiros e pelas numerosas tribunas de que dispõem nos meios de comunicação social. A primeira regra é haver vontade e determinação política para levar a cabo as necessárias reformas; um governo sem indiscutível legitimidade eleitoral e sem forte liderança política dificilmente estará em condições de travar grandes guerras com os grupos de interesse mais influentes. A segunda regra é a marcação da "agenda" política por parte de quem quer promover reformas que afectem poderosos grupos de interesse; o pior que pode suceder é permitir que estes tenham conhecimento antecipado das medidas projectadas e tenham a iniciativa de as veicular para a opinião pública segundo os seus pontos de vista próprios, colocando o poder político na defensiva. A terceira regra consiste em explorar as contradições entre diferentes grupos de interesse e, se possível, das que possam existir dentro do próprio grupo de interesse mais afectado. Por exemplo, na área da saúde é possível colher o apoio dos médicos contra os farmacêuticos (e vice-versa), conforme os temas; e neste caso das farmácias os jovens farmacêuticos podem ser os primeiros apoiantes das medidas de abertura do mercado, as quais podem aumentar a procura dos seus serviços profissionais.A quarta regra - que é a regra de ouro - consiste em trazer a discussão das reformas para a opinião pública, dando lugar central à defesa e protecção dos interesses dos utentes. O pior que pode suceder a um governante em luta contra interesses sectoriais arreigados é confinar a discussão à esfera da negociação bilateral com os respectivos grupos de interesse. O apelo aos utentes em nome do interesse público e dos interesses de cada utente em especial constitui o principal aliado de uma política reformista.

Vital Moreira

Professor universitário

(Público, 15 de Março de 2005)

inhttp://aba-da-causa.blogspot.com/2005/03/manual-para-levar-de-vencida-os-grupos.html